domingo, 6 de março de 2011

Sequestradores de Almas - Parte 2

E quando os seqüestradores de almas são os nossos familiares mais próximos? 
O que move um seqüestrador de alma?

Identifique se é isto que ocorre com você:

Existe clima de sedução subliminar permanente, mesmo quando a teia do seqüestrador já está instalada. A vítima encontra-se enredada num aprisionamento onde o código relacional inclui amor, necessidade de devoção e sentimentos de culpa, todos evidenciados na constante tentativa de sempre acertar.

A tática do seqüestrador, porém, é a de sempre informar de nunca se alcança o esperado e mesmo de ignorar tentativas feitas.

A vítima desta forma ora sente-se devedora, ora totalmente ignorada e desqualificada em seus intentos. O possível desenvolvimento de sentimentos saudáveis como raiva e indignação são, freqüentemente, dissolvidos por táticas habilidosas cujos objetivos são dissolução e despersonalização.

A situação fica, de fato, preocupante quando o protagonista desse cenário de horror é um ou mesmo ambos os pais, associados.

Sobre o funcionamento emocional dos seqüestradores e possíveis causas para essa violência:

São pessoas jamais nutridas suficientemente pelo amor do outro. Pessoas que costumam desviar a falta, o sentimento de completude e saciedade para caminho de prazer frio ao instaurarem esse padrão de sentimentos no outro. Negam a própria dor e sofrimento emocionais projetando isso na vítima e esta acaba sendo a evidência de sua falta e, por isso mesmo, existe ódio e desprezo subliminar por este que nunca faz a coisa certa. E a vítima se sente sempre devedora com necessidade da comprovação do afeto que nunca virá. A vítima acaba se tornando os raios-X emocional, daquilo que ocorre no íntimo do seqüestrador. Dor emocional não explicitada para o agressor, aparentemente sem solução, e fica sendo vingada ininterruptamente no outro, que funciona sendo, um aspecto de si mesmo.

O seqüestrador, por não ter condições emocionais de lidar com importantes questões que o frustraram, projeta no outro a sua vingança pessoal inconsciente.

Na verdade, estes também são vítimas macabras de si mesmo e ao contrário do suposto, não são livres e talvez jamais o serão. Estão cegamente impulsionados a funcionar de modo perverso jamais, sentindo-se satisfeitos. Profundo sentimento de angustia e insatisfação nunca resolvidos é a matriz essencial desses, sendo os mais comprometidos num sistema defensivo e cego, ficando a quilômetros de distancia das angustias geradoras desse padrão de atitude. São, assim, mais frágeis, porem, mais perigosos, posto que jamais entram em contato com o que os move. Toda insatisfação, angústia e sofrimentos transformam-se em tirania cega. Percebem a realidade e para conseguirem se nutrirem das suas faltas, por mais inconscientes que sejam, sabem da necessidade do outro. Especializam-se em entender tipos emocionais e suas carências e é aí que, literalmente, deitam e rolam.

Todas as situações desse tipo de atuação são terrivelmente destruidoras.

Imaginem pais que abusam de filhos quando estes precisam de todo suporte e continente para ser pessoas, esses os transformam, exatamente, naquilo que eles próprios são intimamente e num prazer distorcido, queixam-se eternamente destes. Anulam todos possíveis desejos, roubando da criança em desenvolvimento valores a serem construídos. Assassinato psicológico nem sempre denunciável e de difícil detecção. Isso pode ser evidenciado quando tudo o que a criança faz está errado ou perturba. Os seqüestradores dificultam a faculdade do livre pensar e do discernimento.

No futuro, essas vítimas podem revelar-se como novos seqüestradores ou por não saberem se manter, atraem novos seqüestradores e podem, efetivamente, destruir a si mesmas por meio de doenças psicossomáticas ou mesmo atraindo seus parceiros para essa prática, ou ainda, desenvolvendo nos filhos a continuidade deste tipo de relação adoecida. Isso pela necessidade real de ter um outro para pensar sobre si mesmo. Note que esse tipo de vivencia está longe de ser co-dependência, porque nesse tipo de relação, o final costuma ser trágico se não se busca algum tipo de ajuda externa. O seqüestrador é movido por hostilidade a outrem onde o pano de fundo é desejo de vingança dissimulado em si mesmo experiências traumáticas da infância vivenciadas de modo passivo. No adulto atuado como triunfo sobre a sua presa em infinita repetição de ações destruidoras do psiquismo alheio. A leitura é a do fracasso deste intento se for explicito, mas do triunfo, se for camuflado pelo vértice da sedução e da complexidade de ações de violência dissimulada.

As únicas vezes que a coerência macabra desaparece do seqüestrador é quando as vitimas acordam e se rebelam e, definitivamente, defendem-se dos ataques. Os seqüestradores de alma se bem observados, atuam por meio de rituais definidos de sedução, desqualificação e despersonalização do outro. Para um bom observador, depois de desvendada a atuação, embora possa adquirir requintes mais violentos, fica medíocre, mas nunca deixa de ser perigosa em amplo espectro.

Este tipo de situação também não é incomum ocorrer entre irmãos e costuma ser tão danosa e perigosa como entre cônjuges e de pais para filhos.

Como pode ficar a personalidade dessas vítimas:

Para o seqüestrador, esse outro tem status de coisa e não de pessoa e por este mesmo motivo uma estadia por demais prolongada com esses seqüestradores pode levar a vítima a ter depressões severas, paralisia do fazer e até mesmo desistir de tudo o que significa vida, pelo simples fato de não se sentir capaz para mais nada.

O que fazer para sair deste enredamento e que tipo de encaminhamento que se pode dar a vida:

Como já foi dito anteriormente, busca por ajuda terapêutica, de amigos ou de alguma convicção religiosa é preciosa.

Tenha em mente que seus sentimentos de que nada está bem devem ser levado extremamente a sério, principalmente porque na maioria dos momentos , se não em todos, você será seu único farol de luz acesa, pois a detecção deste status é dificílima de se capturar e os de fora são os que menos percebem a situação dramática vivenciada.

Ao contrário do que se costuma acontecer, quando todos de fora percebem atitudes hostis, maus tratos, etc, nesta situação o comum é que de fora nada se percebe e, se você não estiver muito atento, é provável que seja denunciado como insano, ou mesmo como mal-agradecido em meio a tantas coisas boas que o relacionamento aparentemente proporciona. No caso de filhos e pais, o mais comum de se ouvir é:

- Eles são seus pais e só querem o seu bem. O que é fato, mas que fica sendo um paradoxo quando coexiste este tipo de doença emocional.

Fique atento e leve a sério o que sente. Vá à luta, observe e pesquise se de modo mais objetivo possível. E antes e primeiro de tudo: AME-SE.

Sílvia Malamud é Psicóloga Clínica, Terapia Breve e de Casais (Sedes), Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e Terapeuta em Brainspotting – David Grand PhD/EUA.
Tel. (11) 9938.3142 - deixar recado.
Autora do Livro: Projeto Secreto Universos



3 comentários:

  1. Conheci uma pessoa que fazia muito mal aos outros, todas as ex sempre sofriam de forma absurda. Ela falava que não queria mais fazer isso, que ela simplesmente não conseguia fazer diferente e por mais que tentasse não conseguia mudar.

    Eu me lembro que na hora eu pensava algo do tipo 'se ela se sente tão mal por isso, não deve ser tão "má" assim', mas isso ficou na minha cabeça.

    O que vc acha? Uma pessoa pode fazer mal a outra continuamente apenas pela força do hábito e mesmo sofrendo mto (ao menos a nível consciente)? Ou seria disfarce, nem que fosse um disfarce para si próprio?

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  2. Não sei. Isso abre um leque de especulações, que vão desde algo psiquiátrico até uma questão pisoterápica e daí, até uma questão de falta de sinceridade.
    Cada caso é um caso, né?

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  3. Sim, é que eu achei pertinente. Tipo no exemplo que é dado ali que a as vezes a vitima tem como sintoma se tornar uma pessoa assim. É como se ela fosse ensinada que essa é a forma de amar.

    Sei lá, eu me lembro que na época me marcou bastante o nível de sofrimento da menina por fazer o outro sofrer como se ela não tivesse nada a ver com isso.

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