quinta-feira, 9 de maio de 2013

Entrevista: J. J. Abrams, diretor do novo 'Star Wars - Episódio VII'


Nunca elogie J. J. Abrams. "Ele odeia isso", confirma a atriz Alice Eve, a nova aquisição da saga "Star Trek", "reimaginada" com sucesso pelo diretor há quatro anos, rendendo mais de R$ 600 milhões nas bilheterias.

Mas era tarde demais. Na entrevista concedida à imprensa latina pelo elenco de "Além da Escuridão - Star Trek", segundo filme da série sob comando de Abrams, a reportagem da Folha perguntou aos atores o que há de tão especial no diretor para ele virar o comandante das duas maiores franquias da ficção científica do cinema.

Além de "Star Trek", que estreia no Brasil em 14 de junho, Abrams será o diretor de "Star Wars - Episódio 7", que deve estrear em 2015.



Entre elogios de Alice (dra. Carol Marcus), Zoe Saldana (Uhura) e Chris Pine (Kirk), Abrams agoniza. No fim das respostas, ele olha ameaçadoramente para a reportagem.

Mas ele precisa se acostumar com o assédio. Hoje, Jeffrey Jacob Abrams, 46, é o diretor mais poderoso de Hollywood, no mesmo patamar de James Cameron ("Avatar") e Steven Spielberg.

A franquia "Star Trek" é avaliada pelo mercado em R$ 8 bilhões. "Star Wars", em R$ 54 bilhões, entre lucros de licenciamento e bilheteria. Fora comandar agora as duas séries, ele é o criador de fenômenos pop como "Lost".

Uma hora depois da conversa com o elenco, o nova-iorquino encontra a Folha de São Paulo no hotel Four Seasons para uma entrevista. "Odeio receber elogios. Sou muito crítico com meu trabalho", solta o roteirista, produtor e diretor que transformou sua produtora, Bad Robot, na Meca dos nerds.

*

Seu primeiro longa como diretor foi "Missão: Impossível III", em 2006. O que mudou em sua vida desde aquele filme?
J.J. Abrams - Tive um terceiro filho [August, nascido naquele ano] e a Bad Robot passou de uma pequena companhia para uma empresa maior e casa de várias séries e filmes interessantes.

Não ficou decepcionado com o fato de o longa não ter ido tão bem na bilheteria?
Claro que sempre desejo que meus filmes rendam bastante, mas o capítulo seguinte da série, "Protocolo Fantasma" [produzido por Abrams], é bem melhor.

O filme de Brad Bird é melhor que o seu?
Com absoluta certeza. Ele conseguiu devolver "Missão: Impossível" ao caminho correto. Mas já estou produzindo com Tom Cruise o novo "Missão: Impossível", tentando encontrar uma ideia ainda melhor que o filme anterior.

Quando você era adolescente, a produtora Kathleen Kennedy o contratou ao lado de seu amigo Matt Reeves [diretor de "Cloverfield - Monstro"] para organizar as caixas de Super 8 de Steven Spielberg. Anos depois, ele produziu seu "Super 8". Além disso, seu primeiro roteiro, "Uma Segunda Chance" (1991), foi protagonizado por Harrison Ford. E você logo trabalhará com ele em "Star Wars - Episódio VII". Tudo em sua vida está conectado como um episódio de "Lost"?
É muito estranho como alguns fios se conectam em minha carreira, realmente. Mas eu tento não pensar muito nisso, porque pode ser assustador. Tudo parece muito surreal e impossível de acontecer. Não quero pensar se existe uma razão maior para tudo isso.

Hollywood é um lugar onde o sucesso e o fracasso acontecem de forma muito rápida. Qual o segredo de ter chegado à uma posição como a sua?
Acho que uma pessoa bem-sucedida em qualquer negocio esta suscetível a virar um alvo, mas eu não posso viver com medo de ser um fracasso ou devorado por executivos. Eu encaro as oportunidades que recebo como se fossem as últimas da minha vida. Eu preciso arriscar em tudo que me envolvo. Eu não achava que faria outro filme depois de "Missão: Impossível III". Eu não achava que fossem querer um novo "Star Trek" depois do primeiro. Hollywood é um lugar difícil, as pessoas parecem ter um plano secreto por trás de seus atos. Mas o segredo é apreciar o momento e tratar as pessoas da maneira que você gostaria de ser tratado.

"Além da Escuridão - Star Trek" lida com terrorismo e há uma leitura clara sobre incursões militares americanas em busca de Osama Bin Laden ou armas de destruição em massa. Por que o tema agora?
Uma das coisas que eu mais admirava na série "Além da Imaginação" era como Rod Serling [criador do programa] lidava com questões de briga de classes, política e raça em todos os episódios. Como ele usava monstros, alienígenas e robôs, a discussão era permitida nos anos 1960. O novo "Star Trek" é para ser divertido, mas quer provocar reflexão. Não estou tentando ser um sabichão, é óbvio o tema do filme. Mas as histórias precisam pegar o que acontece em nossas vidas agora e permitir que as pessoas pensem sobre certos temas.

Mas o tema é espinhoso para um filme de verão. Veja o que aconteceu com o atentado em Boston.
Escrevemos esse filme há mais de dois anos, não temos como adivinhar o que pode acontecer no mundo. Qualquer cidade do planeta está sujeita a esse tipo de ataque, infelizmente. A história que estamos contando é assustadora, mas não é nova em nossa realidade, vários países sofreram com isso. As ameaças vivendo entre nós e como lidamos com elas são os temas que movem nosso vilão.

Um grande filme começa com um grande vilão, então?
Não sei se começa, mas certamente quanto melhor o vilão, mais oportunidades você terá para contar uma grande história. Os heróis são definidos pelos atos do vilão, e quanto mais ambíguos e provocantes, melhor.

Por que a escolha de Benedict Cumberbatch para o papel?
A resposta fácil seria dizer que ele é o melhor ator possível para o papel, mas ele tem um nível de humor e brilhantismo que eleva cada cena em que aparece.

Você é fã da série "Sherlock"?
Nunca tinha visto até Damon Lindelof [roteirista de "Lost"] me encher o saco para vê-la. Claro que meu cérebro quase explodiu quando finalmente assisti aos episódios.

Você gosta de séries inglesas...
"Downton Abbey" é uma das séries que não perco de jeito nenhum na televisão.

Agora você deixa "Star Trek" e assume "Star Wars". São dois universos muito diferentes?
Honestamente, eu poderia fazer uma lista de quão diferente eles são. "Star Trek" e "Star Wars" não são remotamente parecidos. Seria como dizer que duas histórias são parecidas só porque se passam na Terra.

Mas você sempre deixou claro que uma de suas vantagens em assumir "Star Trek" era o fato de não ser fã da série. Mas você é fanático por "Star Wars". É difícil manter esse lado afastado e deixar o diretor assumir?
É louco. Há momentos de epifania em que eu percebo sobre o que estamos falando e penso: "Meu deus, isso é insano". Eu vou conseguir separar o lado fã do diretor, porque a maior parte do tempo foco no trabalho. Vou tratar "Star Wars" da mesma maneira que trato os meus outros trabalhos, pensando primeiro nos personagens e na história.

Em que estágio está a produção?
Não posso dizer muito, mas estamos nos primeiros dias. Já conversei com Michael [Arndt, roteirista de "Star Wars"] e estamos jogando algumas ideias na mesa. Uma das coisas que mais amo na série é a habilidade de ter batalhas espaciais em alta velocidade. Eu não podia fazer isso em "Star Trek", porque as naves parecem porta-aviões de tão imensas.

Mudou algo desde o anúncio de que você seria o diretor do "Episódio VII"?
A maior mudança é a quantidade de perguntas que vocês me fazem sobre "Star Wars" (risos). Obviamente, havia planos que eu tinha com a família. Nós queríamos fazer longa viagem. Era algo importante que planejávamos e isso mudou. Acho que no fim tudo vai dar certo, mas aceitar dirigir "Star Wars" não foi uma decisão fácil para mim e para minha família. A série significa um mundo de possibilidades para mim.

Qual é a sensação de ser o diretor mais poderoso do mundo no momento?
Obviamente isso não é verdade (risos). Eu só me sinto afortunado de trabalhar nas duas séries. Colaborar com pessoas que admiro há anos é a verdadeira dádiva de fazer "Star Wars". Quero aprender com George Lucas, Kathleen Kennedy, Simon Kinberg [produtor]. "Star Wars" é o sonho de poder experimentar como sempre quis. Sim, é divertido fazer o filme, viajar para o México e comer a melhor comida do mundo, mas a colaboração com pessoas que eu via os nomes na tela do cinema é a melhor parte.

Foi o mesmo sentimento de ter Spielberg como produtor em "Super 8"?
Sim, exatamente. Agora, eu saio com ele, jantamos juntos e vemos filmes. Mas, de vez em quando, eu penso: "Puta merda, é Steven Spielberg do meu lado". O cara é meu ídolo desde que eu era pequeno. A maior parte do tempo eu evito pensar nisso, mas há algumas horas que não dá para conter o deslumbramento.

*

LINHA DO TEMPO - J. J. ABRAMS

1966
Nasce em Nova York (EUA) Jeffrey Jacob Abrams, conhecido hoje como J.J. Abrams. Ele é filho de um casal de produtores de TV e cresceu em Los Angeles.

1998
Coassina o roteiro do filme "Armageddon", blockbuster que foi fracasso de crítica mas sucesso de público (arrecadou o equivalente a R$ 402 milhões, em valores da época).

2001
Funda a produtora Bad Robot ao lado de Bryan Burk, especialista em efeitos especiais,

2004
J.J. Abrams, que já era conhecido dos telespectadores por causa dos seriados "Alias: Codinome Perigo" e "Felicity", cria com Damon Lindelof e Jeffrey Lieber a série "Lost". A atração sobre um grupo que sobrevive à queda de um avião numa ilha misteriosa virou um fenômeno de audiência e ganhou um Globo de Ouro em 2006.

2006
Dirige o terceiro filme da franquia "Missão: Impossível", com o ator Tom Cruise. Em seguida, passa a produzir os filmes do agente Ethan Hunt.

2009
Com o filme "Star Trek", reabilita nos cinemas a franquia conhecida como "Jornada nas Estrelas". O longa conta o início da saga do capitão Kirk e do sr. Spock

2011
È apadrinhado por Steven Spielberg, que produz seu novo filme "Super 8", uma aventura juvenil que remete a filmes do "padrinho cinematográfico" como "E.T. - O Extraterreste"

2013
No mesmo ano em que lança "Além da Escuridão - Star Trek" nos cinemas, J.J. Abrams é anunciado como o diretor do próximo filme da saga "Star Wars", conhecida também como "Guerra nas Estrelas", que deve ser lançado em 2015

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'Star Trek' sugere possibilidades de novo 'Star Wars'

Zachary Quinto como Spock em cena
de "Além da Escuridão - Star Trek"
Um dos maiores desafios de J. J. Abrams em "Star Wars" será manter uma mitologia conhecida por qualquer pessoa com um mínimo interesse por cultura pop e criar atrativos que não envergonhem, como o "cômico" Jar Jar Binks, de "A Ameaça Fantasma".

O novo "Além da Escuridão - Star Trek", sequência do filme de 2009 que relançou a série de Gene Roddenberry, dá pistas do que Abrams pode fazer ao assumir a saga de George Lucas.

Já na saída, o cineasta respeita o passado, mas não a ponto de transformar "Star Trek" num tributo enfadonho. Usa os elementos que funcionam para um público moderno de forma esperta, algo que Lucas não soube fazer ao lançar uma nova trilogia sobre Anakin Skywalker, em 1999.


Temos a ótima química do impulsivo capitão Kirk (Chris Pine) com o calculista Spock (Zachary Quinto) em busca de um terrorista (Benedict Cumberbatch) que esconde mais do que suas motivações sugerem.

A preocupação em provocar o espectador (por vezes, o filme beira a tragédia) é um traço que Abrams deve inserir no roteiro escrito por Michael Arndt.

Mas nada dá mais prova do carinho do diretor por "Star Wars" que a cena em que três naves klingons --a raça inimiga da Federação dos Planetas Unidos-- perseguem um bólido lançado pela Enterprise com Kirk, Spock e Uhura (Zoe Saldana) a bordo. A sequência remete ao final de "Star Wars - Uma Nova Esperança".

Já o visual da nave dos heróis tem clara inspiração na Millennium Falcon, pilotada por Han Solo (Harrison Ford) na trilogia Jedi. "É realmente similar. A homenagem é clara. Queria que aquela nave fizesse uma cena rápida e energética de corrida como não vemos em 'Star Trek'." (RS)






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