sexta-feira, 23 de março de 2012

Sonda da Nasa fornece visão inesperada de Mercúrio


Planeta parece ser menos montanhoso que Marte e Lua e suas 
entranhas são muito diferentes dos outros do Sistema Solar


Mercúrio parece ser menos montanhoso que Marte e a Lua, e suas entranhas são muito diferentes das de outros planetas do Sistema Solar, segundo um artigo publicado nesta quarta-feira pela revista Science.

A publicação inclui dois estudos realizados a partir das informações enviadas pela sonda espacial Messenger, que há um ano se tornou o primeiro satélite artificial de Mercúrio e vem fazendo observações da topografia e do campo gravitacional no hemisfério norte do planeta, que possui reservas profundas de sulfureto de ferro.


A sonda, de quase meia tonelada, foi lançada ao espaço por um foguete Delta II em agosto de 2004 e, após três passagens pelas proximidades do planeta, em março de 2011 se posicionou em uma órbita altamente elíptica, entre 200 e 15 mil km da superfície de Mercúrio.

Os técnicos da Nasa - agência espacial americana - indicam que essa órbita busca proteger o aparelho do calor propagado pelas áreas mais quentes da superfície de Mercúrio. Um dos instrumentos na cápsula robótica é um altímetro de laser que estudou a superfície no hemisfério norte de Mercúrio, onde se verificou que a variedade de elevações é consideravelmente menor que as da Lua e de Marte.

A equipe liderada por Maria T. Zuber, do Departamento de Ciências da Terra, Atmosfera e Planetas do Instituto Tecnológico de Massachusetts, usou o altímetro que cobre áreas de 15 a 100 metros de diâmetro, a 400 metros de distância uma da outra, ao longo das regiões sob a órbita.


"A precisão radial das medições individuais é de mais de um metro e a precisão em relação ao centro de massa de Mercúrio é de menos de 20 metros", destaca o artigo, que teve a colaboração de cientistas dos Estados Unidos, Canadá e Alemanha.

Segundo os pesquisadores, a característica mais proeminente na metade norte de Mercúrio é uma extensa região de terras baixas que inclui uma planície vulcânica. Maria e seus colegas também puderam examinar a cratera Caloris, de 1,5 mil km de diâmetro. Eles determinaram que uma parte do fundo da cratera tem uma elevação maior que sua circunferência. Já uma equipe liderada por David Smith, da qual Maria também faz parte, usou o rastreamento por rádio da cápsula Messenger para determinar o campo de gravidade do planeta.

Com os dados obtidos, observou-se que a crosta de Mercúrio é mais grossa em latitudes baixas e mais espessa em direção à região polar norte. Essas conclusões descrevem o interior do planeta e indicam que a camada externa de Mercúrio é mais densa do que os cientistas acreditavam até agora. "A estrutura interna de um planeta preserva informações substanciais dos processos que influíram na evolução térmica e tectônica", ressalta o artigo.

"A medição do campo de gravidade de um planeta proporciona informações fundamentais para compreender a distribuição da massa interna desse corpo". Durante as primeiras semanas em órbita, a sonda foi rastreada constantemente pelas estações de banda X (8 gigahertz) da Rede de Espaço Profundo da Nasa.

Após esse período, a cobertura foi menos frequente. Os pesquisadores explicam que processaram os dados coletados entre 18 de março e 23 de agosto de 2011 e mediram as anomalias causadas pela gravidade no hemisfério norte do planeta.

Para surpresa dos cientistas, os dados apontam uma grande densidade de massa nas mantas superiores de Mercúrio, embora seja baixa a presença de ferro nas rochas da superfície. "Portanto, deve existir uma reserva profunda de material altamente denso que explique a grande densidade do manto sólido e o momento de inércia", acrescenta o artigo, concluindo que a composição mais provável dessa reserva seja de sulfureto de ferro.




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