Por Giordano Cimadon
Nos últimos anos, muito tem sido dito a respeito dos efeitos da meditação sobre os estados de atenção e consciência. Pesquisas têm encontrado fortes laços entre a prática da meditação e as funções cognitivas mais avançadas, que dependem do bom desempenho do córtex frontal, como a capacidade de mudar o foco da atenção, de fazer planejamento e de controlar impulsos.
Agora, novas investigações têm encontrado evidências de que a meditação também ajuda a desenvolver processos cognitivos menos complexos. Elas mostram que indivíduos com boa experiência em meditação são mais capazes de processar automaticamente informações, um comportamento que depende de algumas das partes mais primitivas do cérebro.
Diariamente realizamos uma série de processos cognitivos complexos. Fazemos isso quando desviamos a atenção do barulho da televisão para uma conta que precisa ser paga, ou quando nos controlamos para não retrucar uma palavra mais áspera de nosso chefe. Estas são algumas das chamadas funções cognitivas executivas, controladas pelo córtex frontal, a porção mais desenvolvida de nosso cérebro.
Estes processos dependem de uma assimilação rápida de novas informações e sua imediata contextualização. Isso significa que estamos continuamente utilizando modelos mentais enquanto operamos em tempo real, fazendo comparações das novas informações que chegam com o conhecimento previamente acumulado, de modo a ajustar nosso comportamento.
Já os processos menos complexos não lidam muito com contextualização. Eles simplesmente ordena e transmite informações para níveis superiores do cérebro. Esta forma de processamento depende das estruturas cerebrais mais primitivas, relacionadas ao funcionamento da audição, da visão e do tato.
Enquanto os processos primitivos nos permitem saber que estamos olhando para uma coisa metálica vermelha com rodas, os processos complexos nos permitem saber que a coisa de metal é um carrinho de pedreiro, que existem tijolos por perto e que, usando o carrinho, é possível transportar os tijolos de um lugar para o outro.
Muitos estudos vêm sendo publicados através das últimas décadas, mostrando que a meditação aumenta o contrle sobre os processos complexos. As pessoas que meditam são, em geral, mais capazes de controlar seus impulsos, mudar a atenção de uma tarefa para a outra e responder de forma mais efetiva a circunstâncias complexas e transitórias.
Estas habilidades combinadas conferem aquela serenidade típica de quem aprendeu a meditar. Uma vez que são mais hábeis para lidar com tarefas cognitivas mais exigentes, os praticantes da meditação estão menos sujeitos ao stress oferecido pelos desafios do cotidiano.
No entanto, Paul van den Hurk e seus colegas da Universidade Radboud de Nimegue, na Holanda, publicaram recentemente uma pesquisa que mostra como a meditação beneficia também os processos cognitivos mais simples. Eles compararam praticantes e não-praticantes de meditação e mediram tempos de resposta enquanto os sujeitos moviam suas cabeças para visualizar alvos em uma tela
Os pesquisadores também mediram a atividade elétrica dos músculos do pescoço dos sujeitos, bem como a velocidade com a qual os moviam em resposta a um estímulo. Em alguns testes, luzes de aviso era disparadas antes de os sujeitos serem avisados sobre qual alvo deveriam olhar. Em outros, havia sons de intensidade mediana junto com os estímulos visuais, enquanto outros submetiam os sujeitos a barulhos muito altos.
Van den Hurk e seus colegas estavam testando o processamento intersensorial, que descreve como as pessoas apresentam reações mais rápidas quando o estímulo é apresentado sob duas formas ao invés de uma só. Em outras palavrtas, sujeitos com grande processamento intersensorial reagirão mais rápido quando um alvo aparece na tela e ao mesmo tempo soa um barulho alto.
O processamento intersensorial é considerado um produto das funções involuntárias do cérebro, que são as funções mais primitivas. Os pesquisadores consideraram que, se a meditação afetasse o processamento intersensorial, isso seria uma evidência de que a sua prática seria benéfica ao desenvolvimento tanto de funções cerebrais complexas como de funções cerebrais mais simples.
Os resultados confirmaram as expectativas dos pesquisadores. Eles mostraram que os praticantes da meditação levavam muito menos tempo para reagir aos estímulos do que os não praticantes. Isso significa que as pessoas com experiência média de 10 anos em meditação tinham um baixo processamento intersensorial e não reagiam instantaneamente aos barulhos e estímulos visuais.
Esta pode ser uma grande capacidade para quem vive em grandes centros urbanos, onde se está sujeito a um bombardeio de estímulos visuais e sonoros, que exigem demais dos processos cognitivos mais primitivos, levando ao cansaço e ao stress. Dentro do escritório, a concentração em uma única tarefa também é favorecida, aumentando a eficiência e evitando desgastes e, o que seria pior, trabalho dobrado.
Fonte: van den Hurk PA, Janssen BH, Giommi F, Barendregt HP, Gielen SC (Novembro 2010). “Mindfulness meditation associated with alterations in bottom-up processing: psychophysiological evidence for reduced reactivity.” International Journal of Psychophysiology. Volume: 78, Issue: 2, Publisher: Elsevier B.V., Pages: 151-157; PMID 20633581.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário educado! Siga a política do 'se não pode dizer algo construtivo e legal, não diga nada.'