quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Diamantes “celestes”: foi realmente um cometa?

No passado, não só asteroides, mas também cometas caíram sobre a Terra. Na verdade, havia poucos que o duvidaram antes, mas é precisamente agora que têm sido obtidas as provas de um dos cataclismos causados por queda de cometas, segundo afirmam cientistas da África do Sul. De acordo com eles, o evento ocorreu há 28 milhões de anos no atual território do Egito.


Tal conclusão foi tirada após analisadas as rochas pretas arredondadas (black pebble), descobertas há alguns anos na zona egípcia do Saara. Em sua estrutura foram encontrados minúsculos diamantes, que podem se formar a partir do carbono exposto à pressão e temperatura gigantescas. Os pesquisadores propuseram uma hipótese de que os seixos pretos não são nada mais que restos minerais do núcleo de um cometa que continha carbono, entre outros elementos. Depois de entrar na atmosfera, o corpo celeste explodiu em altitude de alguns quilômetros. Parte do aglomerado mineral pedroso atingiu a superfície da Terra e na sequência do impacto o carbono se transformou em diamantes.

Entre outras repercussões daquela catástrofe os cientistas mencionam também os pedaços de vidro âmbar, ao jeito dos que adornam um broche do faraó Tutancâmon. Semelhantes vidros desde há muito vêm sendo encontrados no Saara. Conforme a hipótese, uma explosão na atmosfera derreteu a areia do deserto convertendo-a em crosta vítrea de forma circular com um diâmetro de 80 quilômetros.


A hipótese sobre um cometa caído no Saara baseia-se, em primeiro termo, nos diamantes – uma forma particular de carbono – encontrados no deserto. Em princípio, é um dos elementos mais difundidos no Universo e nos corpos celestes do Sistema Solar. O mais provável é que ele se contivesse no núcleo do cometa sob a forma de dióxido de carbono, metano e amônia congelados. Contudo, a partir dele não é possível obter de nenhuma maneira diamantes. Uma matéria-prima conveniente para tal seria a grafita, mas a ciência desconhece se esta é contida no núcleo dos cometas, relata Dmitri Vibe, chefe do departamento de física e de evolução de estrelas do Instituto de Astronomia da Academia das Ciências da Rússia.

“Enquanto os asteroides nos enviam com bastante frequência amostras de sua matéria sob a forma de meteoritos, nossos conhecimentos sobre a composição do núcleo de cometas são muito mais reduzidos. Amostras da matéria de cometas foram trazidas para a Terra só uma vez, pelo aparelho espacial Stardust. Eu acho que é indispensável estudar mais em profundidade a composição química dos cometas antes de dar respostas fundamentadas.”

Se o evento no Saara foi originado por um cometa, pode-se, então, fazer um paralelo com o meteorito de Tunguska, de 1908. De acordo com a maioria dos cientistas, aquilo foi justamente um cometa. Mas naquela área os diamantes nunca foram vistos, comenta Vladimir Surdin, docente do departamento de astronomia da faculdade de física da Universidade Estatal de Moscou.

“Ali não há uma cratera, pois não havia um impacto, a explosão ocorreu a sete ou oito quilômetros de altitude sobre a superfície da Terra. Foram encontrados pequenos fragmentos do meteorito. Questiona-se se são de 1908 ou acaso caíram ao longo das épocas anteriores? Mas quanto aos diamantes, ali não os há com certeza.”


O especialista não compreende também por que no caso do evento do Saara a ênfase foi colocada na versão de cometa.

“Seja qual for o objeto que caia do espaço para a Terra, sempre haverá explosão, impacto, compressão e alta temperatura. Sendo astrônomo, eu não poderia distinguir entre um impacto do cometa e um do asteroide. Por que é que se está falando no cometa, é um enigma.”

Enquanto isso, os cientistas sul-africanos afirmam que agora apareceu uma maneira absolutamente nova de estudar a matéria de cometas. Em vez de gastar centenas de milhões de dólares e lançar sondas científicas aos cometas, basta tão somente viajar para o Saara.


Talvez seja assim. Embora não valha a pena dar pleno crédito à hipótese dos sul-africanos, porque há alguns detalhes que não foram revelados. A título de exemplo, o relatório preliminar não diz nada se o impacto do quanto restava do cometa deixou uma cratera sobre a superfície da Terra. No Egito, é conhecida uma cratera resultante do impacto, de 45 metros, mas ela não bate – nem por seu tamanho, nem pela idade (2000 anos) – com aquele evento do Saara. Além disso, não está claro como foi calculada a idade dos seixos pretos e se essa coincide com a idade dos pedaços do vidro amarelado. Qual a razão de os autores terem excluído a versão de asteroide deixando apenas a de cometa?

Esperemos, portanto, que os especialistas sul-africanos apresentem, talvez, outros argumentos de maior peso e profundidade. A versão completa de seu relatório será publicada no próximo número da revista Earth and Planetary Science Letters.

Fonte: ruvr.ru


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