Com o surgimento da codificação espírita, no século dezenove, muitas pessoas aqui no Ocidente tiveram a oportunidade de tomar conhecimento, ou melhor, de resgatar, de forma direta e clara os conhecimentos em torno do seu contexto espiritual evolutivo como, também, entender a estreita relação de intercâmbio entre o mundo dos “mortos” com o que se entende como o mundo dos “vivos”.
Disseram os espíritos de ordem mais elevada, de maneira racional e lógica, que o ser humano não é, como muito se pensava e ainda se pensa, o centro de toda a criação divina. Que o estado “hominal” é apenas a etapa de um processo muito maior, que se desencadeia ininterruptamente por todo o Universo.
Tomamos conhecimento de algumas leis universais que regem o desenvolvimento dos seres animados e inanimados, das menores partículas subatômicas aos grandes astros, dos seres vinculados à matéria aos habitantes de outras esferas existenciais.
Novos horizontes, então, surgiram nas mentes cujo materialismo era a única realidade existencial. Para os religiosos – claro que não todos – essa grande revelação espiritual trouxe maiores facilidades para a compreensão dos fenômenos “miraculosos” e “sobrenaturais” e ainda, o fortalecimento da fé, sustentada por bases sólidas e consoladoras.
Desde os primeiros escritos sobre o Espiritismo, através do trabalho codificador de Allan Kardec, já se passaram, aproximadamente, cento e cinqüenta anos e, apesar disso, muita resistência ainda se encontra em uma sociedade que se apega, em grande parte, aos transitórios valores da vida ao invés de adentrar e abraçar valores concernentes ao enobrecimento da alma. Não estamos defendendo que a melhor atitude de todos os seres humanos seria abraçar o Espiritismo como doutrina espiritualista, porém, que a melhor atitude humana seria enobrecer a sua alma, através de obras morais em si e no mundo.
Quando, de tempos em tempos, surgem novos conhecimentos, novos pontos de vista, novos conceitos e descobertas, é natural que apareçam as contradições, pois, afinal, o contato com o novo exige a modificação de paradigmas já estabelecidos e, conseqüentemente, as necessárias mudanças no modo de se viver e de se encarar o mundo, o que nem sempre agrada a todos. Foi assim na época da passagem carnal de Jesus pela Terra, foi assim com o surgimento da doutrina espírita e certamente está sendo com tudo o que vem surgindo nos dias atuais. O pensamento humano está em constante modificação e os conceitos e entendimentos sobre o mundo que o cerca vão se ampliando a cada dia.
Se fizermos uma retrospectiva até certo período da História, abordando apenas a partir da era cristã, vamos encontrar exemplos claros dessas modificações que se processam naturalmente. Podemos lembrar Cláudio Ptolomeu, um astrônomo, matemático, físico e geômetra do século II que, influenciado pelas idéias de Hiparco, adota o sistema Geocêntrico, ou seja, “a Terra é o centro do Universo e tudo gira ao seu redor”, pensamento este que influenciou a Igreja Católica por quatorze séculos e era tido como verdade inquestionável.
Evolução da humanidade
Essa visão de mundo, ou melhor, do Universo, permaneceu no entendimento de um número expressivo de pessoas até que surgiu o também astrônomo, polonês, do século XV-XVI com uma idéia inovadora, colocando em sua teoria que o verdadeiro centro é o Sol e que tudo giraria em torno desta estrela, incluindo o planeta Terra. Esta teoria viria a ser confirmada por Galileu Galilei décadas depois. Hoje, pelos avanços da Ciência e da tecnologia – conseqüentes da maturação do pensamento humano – já temos condições de compreender fatos cada vez mais expressivos, como as órbitas solares, a existência de um número infindável de galáxias – graças aos estudos de Huble –, os buracos negros, a constante expansão e contração cósmica, bem como adentrar o mundo quântico e nos deparar com descobertas e revelações cada vez mais inovadoras e inquietantes.
O engraçado é perceber que, apesar de já termos pleno conhecimento de que a Terra não é o centro do Universo – aliás, ela está simplesmente na periferia da Via Láctea, a nossa galáxia – muitos ainda não se desapegaram da idéia e do conceito de sermos o centro da criação divina. Se já se superou, há muito, o conceito de Geocentrismo, por que não se elimina, através do raciocínio lógico, a idéia do Antropocentrismo (homem como centro da criação divina).
Ainda parece difícil para muitos, aceitarem a idéia de não estarmos sozinhos no Universo, de que outras civilizações planetárias compartilham conosco a extensão cósmica e de que muitas delas aqui estão desde o surgimento do homem e de todo ser vivente sobre o planeta Terra, atuando, discretamente ou ostensivamente, tendo sido registradas estas ocorrências ao longo da História, através da arte, de escritos, registros arqueológicos e, mais recentemente, através de fotos e relatos de pessoas que tiveram a oportunidade de, através dos sentidos materiais ou de faculdades mediúnicas, presenciar fenômenos e situações que comprovassem a realidade desta atuação extraterrestre junto à humanidade.
Infelizmente, as questões que se referem ao contexto extraterrestre ainda são encaradas por muitas pessoas como algo aterrorizante, ou então, como algo sem importância e apenas do interesse de ufólogos. No meio científico, apesar de ainda não ser provado, não há mais a discussão se existe ou não vida em outros planetas do Universo, tamanha é a lógica existente no raciocínio humano ao se analisar e estudar a imensidão cósmica. Porém, apesar disso, continuamos a nossa teimosia e, às vezes, até negamos definitivamente a possibilidade de vida inteligente em outros mundos, ou então, preferimos não falar sobre o assunto em público porque podemos ser taxados de loucos, ou pior, podemos assustar alguns e ferir a sensibilidade religiosa de outros.
Em algumas ocasiões, nos nossos grupos de trabalho mediúnico, os mentores espirituais nos esclareceram que muitos ainda têm medo ou desconforto ao tratar do assunto, porque é como se ninguém em nosso mundo tivesse uma “arma” para se defender, pois os poderes e desenvolvimentos tecnológicos destes seres aos quais chamamos de extraterrestres vão além das nossas possibilidades científicas atuais, estão mais adiantados e, tudo o que nos é desconhecido acabamos, numa atitude defensiva, considerando inimigo ou coisa parecida.
Preconceito com a Ufologia
Mas acontece que, até hoje, muitos espíritas que tiveram a oportunidade de tomar contato com as revelações do Alto, com os conhecimentos básicos em torno da filosofia existencial, não aceitam tratar o assunto como tema de importância relevante para o movimento espírita da atualidade e chegam até a dizer que falar de extraterrestre não é coisa para espíritas sérios se ocuparem. Assim, parece até que o assunto é contraditório à doutrina espírita, o que não é realidade, pois ao se estudar as obras básicas da codificação podemos encontrar inúmeras passagens e questões em que os espíritos e também Allan Kardec tratam do assunto com muita seriedade. Aliás, não seria absurdo alguém dizer aqui que, dentre os espíritos que se ocuparam com a codificação do Espiritismo, muitos nunca haviam habitado o planeta Terra, ou seja, vinham de outros mundos e, por isso mesmo, na nossa linguagem, eram extraterrestres. Confirmando isso, podemos verificar a introdução de O Livro dos Espíritos, no primeiro parágrafo do it1em VI, quando Kardec dizia “...os próprios seres que se comunicam se designam a si mesmos pelo nome de Espíritos ou Gênios, declarando, alguns, pelo menos, terem pertencido a homens que viveram na Terra.”, ou seja, aqueles que não faziam parte desses “alguns” que viveram na Terra, segundo nosso raciocínio, vieram de outras moradas, de outros orbes que não a Terra. Mais adiante, neste mesmo livro, no “Prolegômenos”, no sétimo parágrafo, Kardec também dizia: “Em o número dos Espíritos que concorreram para a execução desta obra, muitos se contam que viveram, em épocas diversas na Terra...”, ou seja, não disse todos, mas sim, muitos, o que é bem diferente.
A questão da vida em outros planetas, bem como a atuação ou relação de seus habitantes conosco, aqui na Terra, foi abordada em um número expressivo de vezes pelos espíritos superiores que transmitiram toda essa gama de conhecimentos aos humanos encarnados. E, por isso mesmo, não podemos deixar passar despercebidamente ou encarar de forma menos digna este assunto, que tanto está se mostrando presente nos dias atuais da humanidade terrestre. Breve será o dia em que poderemos, ou melhor, nos graduaremos a tal ponto que será possível compreender que não somos os únicos a habitar toda a extensão cósmica e, quem sabe, poderemos conviver harmoniosamente com outras civilizações planetárias.
Os espíritos superiores nos ensinam que todos os globos que se movem no espaço são habitados por seres mais ou menos evoluídos que a humanidade terrestre, como respondem à questão 55 de O Livro dos Espíritos: “...o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição.” E ainda acrescentam que quando nos achamos os únicos do Universo, o centro das atenções de Deus, nada mais estamos que exercendo o nosso orgulho descabido e prepotente: “Entretanto, há homens que se têm por espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade”.
E, ainda, o que pode parecer espantoso para algumas pessoas, nós, habitantes desta morada planetária, também já viemos de outros mundos em tempos mais ou menos idos, em encarnações passadas, quando por processos de rebeldia às leis divinas do progresso não acompanhamos o desenvolvimento moral destas moradas, tendo, pela bondade de Deus, a oportunidade de sermos exilados em um mundo menos desenvolvido para dar continuidade ao aprendizado espiritual desperdiçado. Aqui nos referimos à quase totalidade dos homens e mulheres, encarnados e desencarnados. E, se não são todos, é porque, graças a Deus, muitos que aqui nasceram e nascem vieram e vêm para o cumprimento de missões, para impulsionar os seres que aqui vivem no seu desenvolvimento, nas diversas áreas do conhecimento e do trabalho. Sobre isso, diz a questão 176 (L.E.): “Depois de haverem encarnado noutros mundos, podem os Espíritos encarnar neste, sem que jamais aí tinham estado?”. E o espíritos respondem sabiamente: “Sim, do mesmo modo que vós em outros. Todos os mundos são solidários: o que não se faz num faz-se noutro”. Na questão seguinte, Kardec continua a perguntar: “Assim, homens há que estão na Terra pela primeira vez?”, e Eles o respondem: “Muitos, e em graus diversos de adiantamento”. Estes são apenas alguns exemplos que deixam claro a abordagem da questão extraterrestre de forma natural pelos mentores espirituais. Em artigos futuros abordaremos melhor a reencarnação nos diferentes mundos.
O que os espíritos superiores tentam nos mostrar com esses ensinamentos, talvez, é a necessidade de ampliarmos os nossos horizontes e de que percebamos a realidade do que nos cerca constantemente. É inevitável admitir que uma hora ou outra, daqui mais ou menos anos, estaremos convivendo normalmente com seres que vêm de outras paragens cósmicas com suas diversas finalidades e, também, os habitantes da Terra poderão ir até estas outras moradas, intercambiando as mais diversas informações e sentimentos, úteis ao progresso geral dos seres.
Muitos desses nossos irmãos mais velhos sempre estiveram e estão presentes no auxílio a esta humanidade terrestre, como nos ensina o Espiritismo. Vêm como obreiros e mensageiros do Pai Celestial, sustentando o desenvolvimento constante do planeta, logicamente, num trabalho conjunto com aqueles espíritos que já se libertaram das suas mais pesadas imperfeições terrenas e que obram pela mais pura vontade de ajudar aqueles que ainda se transviam no caminho ascensional. Quanto a isso, vamos encontrar a resposta dada a Allan Kardec pelos mentores espirituais quando ele questionava se os espíritos já purificados descem aos mundos inferiores (item. 233): “Fazem-no freqüentemente, com o fim de auxiliar-lhes o progresso. A não ser assim, esses mundos estariam entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los.”
Engenheiros Siderais
Como se vê, não há nada de sobrenatural na ação que outras humanidades exercem junto a nós. Aliás, se formos raciocinar sobre o processo de formação da Terra e do surgimento da vida aqui neste planeta, nos ensina o Espiritismo, e conforme aceita nossa razão, que Deus age através dos seus intermediários, dos seus prepostos, ou seja, a vontade de Deus é executada pelos espíritos que já atingiram um estado de pureza tal que é confiado a eles responsabilidades maiores ou menores. Para a Terra ser formada e para que a vida aqui surgisse houve a necessidade da atuação de seres que já haviam atingido um alto grau de desenvolvimento. Estes seres, que algumas vezes são chamados de engenheiros siderais, nada mais poderiam ser que espíritos que evoluíram em outros mundos, não na Terra, pois aqui não havia nada, ainda, muito menos vida inteligente para realizar tal obra. É por isso que devemos encarar a temática com a maior naturalidade possível, caso contrário, continuaremos com o entendimento sobre nossa a história humana limitado.
Não poderia deixar de citar as conversações, chamadas de “Conversações familiares de além-túmulo”, publicadas na Revista Espírita, de Allan Kardec. Gostaria de comentar uma em especial – a conversação mediúnica estabelecida com o espírito Bernard Pallissy, em 9 de março de 1858. Bernard dizia habitar o planeta Júpiter – uma morada planetária muito mais adiantada que a Terra. Dentre as questões feitas a este espírito, ressalto a número 31, onde Kardec pergunta: “Poderíeis nos dar uma idéia das diversas ocupações dos homens (em Júpiter)?”. E o espírito responde: “Seria preciso dizer muito. Sua principal ocupação é encorajar os Espíritos que habitam os mundos inferiores a perseverarem no bom caminho. Não tendo infortúnio a avaliar entre eles, vão procurar onde se sofre; são os bons Espíritos que vos sustentam e vos atraem ao bom caminho”. Mais adiante, na questão 46, Kardec pergunta se ele (Bernard Pallissy) poderia nomear alguns espíritos habitantes do planeta Júpiter que cumpriram uma grande missão na Terra. E teve como resposta o nome de São Luis, que aliás, foi um dos espíritos que contribuíram para a codificação da doutrina espírita.
Os habitantes da Terra ainda alimentam muito medo e preconceito em torno destas questões referentes ao contato de extraterrestres com os terrestres, mas não avaliam os grandes benefícios que podem ser decorrentes deste contato mais direto com seus irmãos que simplesmente não habitam o mesmo orbe. Se hoje em dia é algo comum estabelecermos contato com outras nações, outros países, ou ainda, com espíritos desencarnados, assim será, também, no futuro, o intercâmbio com outras civilizações cósmicas, dentro do nosso próprio sistema solar e até mesmo fora dele. E para isso é só uma questão de tempo.
Superando os preconceitos, os paradigmas e olhando para a vastidão universal como a “Casa do Pai”, reconhecendo nestes “visitantes siderais” verdadeiros irmãos que nos amparam em nossa caminhada, teremos alcançado um estágio de maturidade, compreensão e respeito à harmonia cósmica. Não pretendo dizer, nessas linhas, que a busca humana deve sempre atentar para o exterior, muito pelo contrário, deve procurar o conhecimento de si mesma, de sua moralização e da aplicação do grande código de ética cósmica, sintetizado por Jesus em seu Evangelho e pelos grandes missionários divinos que aqui encarnaram com o objetivo de despertar o homem para a sua verdadeira natureza espiritual.
Fonte: Artigo publicado na edição 42 da Revista Cristã de Espiritismo.
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