domingo, 1 de setembro de 2013

Doença grave pode ser oportunidade de reavaliação de atitudes

Pelo menos para o espiritismo, o câncer é como uma tentativa de reequilíbrio, como se fosse um aviso e um pedido de tempo a quem não soube elaborar as emoções da vida e, em muitos casos, achou que daria conta de tudo.

Aquilo que parece injustiça é, na realidade, uma oportunidade de fortalecimento para que as dores e os sofrimentos sejam suportados com maior grandeza do espírito. Algumas doenças, como o câncer e os males da infância, que muitas vezes nos fazem duvidar da fé e perguntar o ‘porquê’ de tanto sofrimento para tal paciente, tem também suas explicações. Pelo menos para o espiritismo, o câncer é como uma tentativa de reequilíbrio, como se fosse um aviso e um pedido de tempo a quem não soube elaborar as emoções da vida e, em muitos casos, achou que daria conta de tudo. Uma doença pode ter um significado muito maior do que se imagina. É assim, visto como uma oportunidade de rever e avaliar a vida, que muitos males são interpretados à luz do espiritismo.

Neste último dia da série do Estado de Minas, 'Saúde à luz do espiritismo', o jornal ouviu dos profissionais da psicologia e da pediatria as interpretações para males que, até hoje, não se sabe ao certo como surgem. “Em que momento a gente começa a adoecer?”, questiona a psicóloga clínica e espírita Letícia Fonseca Talarico, que faz parte de grupos de tratamento a pacientes com câncer, da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais. A pergunta é, segundo ela, o pontapé inicial para essa discussão. Dentro de uma mudança de clima, podemos gripar, mas, “se estivermos mal emocionalmente, a gripe, que seria simples, piora”.

E, ao contrário do que se pensa sobre o câncer, mal que, segundo o Instituto Nacional do Câncer, atinge milhares de brasileiros todos os anos, é visto pelo conhecimento espírita, conforme a especialista, como uma tentativa de reequilíbrio. “Quando chega uma nova paciente para o nosso grupo de tratamento, dizemos: lá vem outra mulher maravilha. Geralmente, as mulheres que sofrem de câncer, durante muito tempo de suas vidas, acharam que davam conta de tudo e não conseguiram elaborar as emoções da vida”, diz. Ela exemplifica, contando o caso de uma paciente que se casou com um homem muito difícil de lidar. “Mesmo sabendo isso, ela foi passando a ideia de que dava conta de tudo. Passou por cima de si mesma. Veio o câncer e fez o contrário, colocou o marido para cuidar dela”, conta.


TENSÕES 

Muitas vezes na vida, segundo Letícia, vamos vivendo as emoções fortes sem dar nome a elas. “Em vez de colocá-las para fora, vamos guardando-as e deixando-as passar”, diz, lembrando que isso ocorre muito com os homens, que guardaram muita tensão ao longo da vida e não a colocaram para fora, até o câncer lhe chamar a atenção para a vida. “O câncer é um alarme e um convite para rever a vida. E é uma doença que une as famílias. É um retorno à casa do Pai”, define a psicóloga.

No grupo da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, é obrigatório aos enfermos estarem em tratamento. Há psicoterapia e terapia de família.


Males da infância

Mas e se esse paciente for uma criança? Como o espiritismo encara os males da infância? Segundo comenta a pediatra e homeopata Lenice Aparecida de Souza Alves, a vida é, antes de tudo, regida por leis que expressam a vontade de Deus. “Uma criança que tem uma experiência dessa ordem teria, naturalmente, uma série de situações que poderiam favorecer a própria evolução”, diz, lembrando que, muitas vezes, uma doença desperta nas pessoas o sentido espiritual.

Quando a criança é acometida por uma fatalidade, de acordo com a pediatra, podem-se buscar respostas nas causas do passado. “Pode ser uma prova para aquela família.” Ela se recorda de um menino que teve um quadro de leucemia e que não ficava sozinho de jeito nenhum. “Um dia, ele compartilhou comigo que tinha medo de morrer e ser levado para o interior. A criança nos surpreende. A leitura dela é particular.”


LAÇOS 

A especialista diz que seu consultório é um espaço profissional. “Sou homeopata, mas muitos pacientes me procuram por saber que sou espírita”, conta, lembrando que o tratamento espírita é água fluidificada, passe e ida ao centro espírita. “Há muitas crianças que falam do seu amigo invisível. Até que ponto é fruto do imaginário ou é a janela aberta entre o espiritual e o mundo terreno?”, questiona, lembrando que, no caso do câncer infantil, as crianças têm que se submeter ao tratamento convencional, como a quimioterapia e outros recursos que forem indicados para os seus casos.

“Pela visão espírita, essa situação vai ter algo mais a oferecer à família, vai dar a essa família elementos de reflexão para que abrace a experiência.” Lenice conta o caso de uma família em que a mãe teve que mudar de cidade em função do filho pequeno doente. “Ela teve que mudar por causa do transplante que ele faria. Não deu certo da primeira vez. O que percebemos no sofrimento de todos eles foi que o laço familiar se estreitou. A cumplicidade dos pais e o empenho da família. Há muitos ensinamentos contidos, que são riquíssimos”, conclui.



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