Em uma noite recente, sentei-me em uma aula chamada "Bruxaria 101: Maldições, Feitiços e Pragas", na Catland, a butique de ocultismo da moda no Brooklyn, em Nova York. Mais de uma dúzia de pessoas, a maioria moças, estava acomodada em cadeiras dobráveis no espaço de eventos de paredes negras da loja. A instrutora era uma das donas da Catland, Dakota Bracciale, antiga maquiadora carismática e mal humorada de 28 anos, vestida de preto esvoaçante, com uma barba e longas unhas cor de alfazema.
"Se você não está pronto para admitir que o universo é um caos, não tenho certeza de até onde pode ir", disse Bracciale à classe, descrevendo a bruxaria como uma maneira de exercitar poder em um mundo sem regras morais transcendentes, uma tecnologia sobrenatural para tomar conta de si mesmo quando ninguém mais o fará. A bruxaria, afirmou, "permite que você seja o árbitro de sua própria justiça".
Eu suspeito que essa suposição de caos – a sensação de que as instituições falharam e de que ninguém está no comando – ajuda a explicar o bem documentado ressurgimento do ocultismo entre os integrantes da geração Y. As tentativas de lançar feitiços logicamente não são exclusivas dos jovens de hoje; Sally Quinn, escritora e apresentadora de Washington, acabou de publicar um livro em que se orgulha de ter enfeitiçado o renomado editor de revistas Clay Felker, que foi meu professor de jornalismo, antes que ele morresse de câncer. Ainda assim, a mágica e a bruxaria andam com o ânimo renovado, que parece estar relacionado ao clima atual de colapso da política e da cultura.
"As bruxas estão por todo o lado nos dias de hoje", lê-se na introdução de "Basic Witches" (Bruxas Básicas), um livro atrevido sobre como fazer bruxarias, publicado em agosto. Na Catland, além de velas, pés de faisão e pequenos vidros com ossos de ratos, é possível comprar a Sabat, uma bem produzida revista feminista de bruxaria, cujas capas trazem fotos em preto e branco de lindas garotas pensativas que parecem estrelas do pop. Há um número surpreendente de caixas por assinatura de parafernálias para mágicas. "Por que a Bruxa é a Heroína da Cultura Pop de que Precisamos Nesse Momento", diz a manchete de um artigo recente publicado no site Vulture, da New York Magazine, que integra a série da semana das bruxas.
Parte dessa moda é sobre a bruxa como metáfora, um ícone que captura a fúria e a independência determinada de legiões de mulheres desagradáveis. Mas parte disso é uma prática real, apesar de eclética, e espiritual, adotada por pessoas céticas quanto às religiões organizadas, mas que não se sentem completas sendo ateístas. São essas tentativas sinceras de usar a mágica que me interessam, porque o ocultismo frequentemente cresce durante os tempos de crise social.
Houve um movimento espiritualista vibrante nos Estados Unidos antes da Guerra Civil, e, durante a guerra, diziam que a primeira-dama Mary Todd Lincoln teria mantido sessões na Casa Branca. O ocultismo floresceu na Rússia pré-revolução e na República de Weimar na Alemanha, assim como na época turbulenta e perturbada dos EUA nos anos 1970. Em geral, quando as instituições e crenças tradicionais entram em colapso, e as pessoas ficam entre o desespero cultural e as esperanças cósmicas, elas se voltam para a mágica. Como Bracciale me disse: "Se os poderes existentes e as estruturas estabelecidas estão deixando você pelo caminho, e há uma coisa que essencialmente oferece outra saída, ou uma maneira de manipular as circunstâncias, por que não tentar?".
Bracciale, que usa pronomes neutros de gênero, cresceu em uma casa evangélica – algo "entre um 'acampamento de Jesus' e encantadores de cobras" – e diz que o novo ateísmo de Richard Dawkins e Christopher Hitchens teve um efeito profundo em sua geração. Mas o ateísmo não foi suficiente, explica: "Criou um vácuo imenso que precisou ser preenchido com alguma coisa".
Esse é um padrão familiar. A teosofia, mãe de todos os movimentos New Age, foi fundada no século XIX quando as descobertas de Charles Darwin minaram a fé nas histórias cristãs da Criação, que levaram alguns a abandonar a religião de uma vez, mas outros a se interessar por novas formas de misticismo. O crescimento do ocultismo entre aqueles que abraçaram a contracultura das décadas de 1960 e 1970 confundiu os estudiosos que acreditaram que a sociedade norte-americana estava se tornando ainda mais secular. O modelo sociológico dominante na época, escreveu um professor da Universidade de Chicago em 1970, "não conseguiu lidar com as novas manifestações do sagrado nos campus universitários e nas comunas para onde os estudantes vão quando fogem dos campus".
Hoje também a racionalidade tecnocrática está perdendo a força. Embora a cultura do ocultismo existisse entre os jovens antes de Donald Trump assumir a presidência, Bracciale acredita que a calamidade da eleição acelerou o interesse pela bruxaria. A bruxaria em si, com certeza, tornou-se política. A cada mês, milhares de bruxas, novos-pagãos e outros praticantes de magia se unem virtualmente para jogar uma praga em Trump: "Que ele fracasse completamente. Que ele não faça mal". (A estrela pop Lana Del Rey já participou.)
"Quando uma grande crise está acontecendo, talvez você se sinta impotente para fazer qualquer coisa através de qualquer meio tangível disponível", explicou Jaya Saxena, uma das autoras de "Basic Witches". "Você não é um político. Talvez não tenha muito dinheiro e não esteja no controle de tudo que acaba lhe afetando e acabe procurando maneiras em sua vida para mudar isso."
A Catland já realizou três cerimônias lotadas para enfeitiçar Trump, que envolveram o uso de "ingredientes de maldições", assim como a recitação do Salmo 109: "Sejam poucos os seus dias, e outro tome seu ofício. Sejam órfãos os seus filhos, e viúva sua mulher. Sejam vagabundos e pedintes os seus filhos; e busquem o pão também em lugares desolados".
Pode parecer estranho que pessoas que rejeitam o monoteísmo digam versos da Bíblia, mas Bracciale frequentemente usa o Livro dos Salmos em feitiçarias. (Atentos à apropriação cultural, alguns dos jovens ocultistas de hoje procuram ideias esotéricas em suas próprias culturas em vez de pegar emprestado de tradições estrangeiras.) Bracciale observa, saboreando a ironia, que por oito anos alguns guerreiros de oração cristãos utilizaram o mesmo salmo imprecatório contra Obama. "Eles apenas usam 'pensamentos e orações', e sabemos o quando elas valem", disse Bracciale com desprezo. "Conosco, há uma estrutura em volta, há uma metodologia por trás."
Por décadas, a direita espiritualizou a guerra política, tratando-a como uma disputa metafísica entre o bem e o mal. Não surpreende que a ascensão de Trump, uma pessoa que para muitos representa uma inversão de todos os valores decentes, criaria uma reação sobrenatural na esquerda. Os ocultistas da geração Y podem parecer bobos para quem está de fora, mas você não precisa acreditar em seus feitiços, na bruxaria ou na magia para vê-los seriamente como um sinal de que muita gente acha o presente intolerável. Sob a superfície da cultura norte-americana, uma mistura furiosa está começando a ser preparada.
Por Michelle Goldberg
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