segunda-feira, 9 de maio de 2011

Médica Difunde Tratamento Extraterrestre

Fim de tarde de uma terça-feira. Cerca de 400 pessoas fazem fila em frente a um portão azul de uma rua que já foi tranquila na Vila Mariana, zona sul. Estão ali à espera de Shellyana, uma extraterrestre que vive na constelação de Plêiades. E não se trata de ficção científica.

Medicina e vida fora da Terra se encontram em São Paulo na figura da médica cirurgiã Mônica de Medeiros, de 53 anos, formada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Vem dela o conceito de medicina extraterrestre, prática que já chamou a atenção do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
Mônica de Medeiros

O portão azul é o endereço da Casa do Consolador, definido por Mônica como um Centro Universalista, sem religião definida, que atende cerca de 7 mil pessoas por mês com base no que ela chama de ‘fraternidade universal’. São feitos trabalhos em prol de crianças carentes e de animais abandonados.

Por lá, o conceito de medicina extraterrestre é comum tanto entre os que buscam atendimentos quanto entre os voluntários. Há quem diga que já tomou vacinas contra a gripe aviária produzidas por extraterrestres, distribuídas gratuitamente. Outros levaram suas crianças para passar por uma mudança de DNA, sob a promessa de adquirir imunidade contra todos os tipos de doenças.

“Sabia que ela falava que curava mas nunca vi laudos de cura de aids, câncer ou de qualquer outra doença. Se ela diz que cura precisa provar, porque as pessoas que estão doentes e as famílias acabam se apegando a isso”, diz a pesquisadora metafísica Angela Cristina de Paschoal, que afirma ter trabalhado com Mônica como voluntária.

A investigação do Cremesp, que abriu uma sindicância para apurar o caso, corre em sigilo e também leva em conta alguns vídeos sobre a medicina extraterrestre que circulam pela internet. Neles, Mônica fala sobre cura – inclusive para câncer e aids.

A investigação foi iniciada em 18 de junho depois que a profissional declarou que atendia no centro, enquanto médium, pessoas abduzidas por extraterrestres. A informação foi dada à reportagem do jornal Folha da Região de Araçatuba, no interior, em 2009.

Sobre os vídeos, a médica garante que não passam de montagens feitas por gente disposta a prejudicá-la. No 16º DP (Vila Clementino) Monica abriu um boletim de ocorrência por calúnia, injúria e difamação que já virou inquérito. E garante que nunca misturou sua atividade médica com a atuação como médium.

“Quanto à cura que o extraterrestre é capaz de fazer, tudo depende da fé”. E continua: “Para algumas pessoas nada vai acontecer, outras vão sair de fato curadas”.

Antes de ouvir Mônica, a reportagem do Jornal da Tarde frequentou a Casa do Consolador durante dois dias, como paciente, em busca de ajuda espiritual para uma doença nos pés.

Nos atendimentos espirituais, a recomendação dada à repórter e aos demais atendidos era a de que o tratamento médico convencional não fosse abandonado. Há avisos semelhantes em panfletos distribuídos no centro e nos cartazes colados pelas paredes.

Em nenhuma das ocasiões a reportagem presenciou Mônica prometendo cura ou atuando como médica. Mas grande parte das pessoas da fila estavam em busca, sim, dos supostos poderes de cura da extraterrestre de Plêiades – cuja energia é canalizada por Mônica, segundo a própria médica, desde 2004.

“Tinha uma dor de cabeça insuportável e nada curava. Fiz cirurgias espirituais com a Shellyana e estou bem melhor”, contava uma mulher. “A força da Shellyana é muito grande. Acredito que tem o poder de curar com a medicina extraterrestre. Já vi casos impressionantes”, comentava uma antiga frequentadora.

Outra mulher dizia que buscava em Shellyana uma solução contra a artrite. “Como não encontrava respostas com o médico, abandonei a medicina convencional por conta própria e estou fazendo os atendimentos espirituais. Sinto muita melhora, é uma questão de fé”.

O abandono de tratamentos convencionais por terapias alternativas é a preocupação dos representantes do Fórum de ONGs Aids do Estado de São Paulo. O órgão, que representa 100 entidades que trabalham na prevenção e tratamento do HIV, informou que irá entrar com uma representação contra a médica no Ministério Público Estadual.

“Nossa preocupação é a de que algumas pessoas, acreditando nessa promessa de cura, interrompam seus tratamentos corretos e preconizados”, afirmou o assessor jurídico do Fórum, Claudio Pereira. A medida, segundo ele, é preventiva e se baseia nos vídeos que estão circulando pela internet.


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