Mesmo 25 anos após os primeiros rumores, suposto avião espião hipersônico permanece no imaginário de investigadores e curiosos.
Tudo começou em agosto de 1989 quando Chris Gibson, um observador da Royal Observer Corps (entidade de defesa civil britânica) que estava numa plataforma de gás no Mar do Norte, a 100 km da costa de Norfolk, na Inglaterra, viu uma cena estranha: uma aeronave em forma de triângulo era reabastecida no ar por um avião-tanque KC-135. Ao lado deles, dois F-111, bombardeiros leves que eram um pouco menores do que ele. O conjunto voava em direção ao Reino Unido, provavelmente a caminho de uma base americana no país.
Seis meses depois da aparição, a revista americana Aviation Week notou que o governo dos Estados Unidos havia incluído 455 milhões de dólares para a ‘produção de uma aeronave negra’ (como são chamados os aviões espiões) no orçamento de 1987, um vazamento incomum no restrito mundo da inteligência militar. Na mesma época, um grupo de observadores vizinhos à famosa base militar secreta ‘Área 51’ passam a ouvir um som estranho de aeronave logo no início da manhã.
Se existir, Aurora seria o segredo militar mais bem guardado da história |
Nem por isso, o assunto esfriou. No ano passado, surgiram novos relatos de pessoas na Inglaterra que ouviram o estranho som pulsante de um avião extremamente veloz. Caso seja real, o ‘Aurora’ certamente será o segredo mais bem guardado pelos militares americanos em toda a história. Mas a pergunta que fica no ar é: existe mesmo a necessidade de uma aeronave assim após o surgimento dos satélites espiões?
Trilha de condensação fotografada no Texas em 2006 seria uma prova da existência do Aurora e seu motor ‘pulsante’ |
Mesmo sem nenhum indício seguro, o suposto avião possui a uma descrição detalhada: 33,5 metros de comprimento (o mesmo que o Boeing 737 da Ponte Aérea), 18,2 metros de envergadura, teto de voo de mais de 40 mil metros, e capacidade de voar entre Mach 5 e Mach 8, ou seja, até oito vezes a velocidade do som (quatro mais veloz que o Concorde, por exemplo).
Para obter esse desempenho inigualável, o Aurora usaria motores do tipo ‘Ramjet’ ou ‘Scramjet’. Como é preciso operar em altas temperaturas onde turbinas e compressores não funcionam bem, um avião hipersônico precisa de uma tecnologia capaz de gerar energia mesmo num ambiente tão hostil. O ‘Ramjet’ trabalha com um fluxo de ar extremamente quente e veloz que requer uma detonação de combustível por pulsos, daí a tese de que os relatos de pessoas que ouviram esses sons inusitados de um avião.
A ideia do motor de pulsos ganhou mais força com o avistamento de trilhas de condensação em formato de ‘donuts numa corda’, numa tradução literal, em 2006 na cidade de Austin no Texas.
Skunk Works
Como em quase todos os projetos secretos de aviões americanos, a tarefa de criar o ‘Aurora’ teria sido atribuída à divisão ‘Skunk Works’ da gigante aeroespacial Lockheed Martin. Famosa no meio aeronáutico por criar aeronaves como o caça stealth F-117A e os aviões de espionagem U-2 e SR-71 Blackbird, a equipe foi capitaneada pelo engenheiro Clarence ‘Kelly’ Johnson, falecido em 1990. O Aurora seria o sucessor natural do Blackbird, avião capaz de voar acima de Mach 3 e que desempenhou papel fundamental na Guerra Fria ao vasculhar a ‘Cortina de Ferro’ em busca de segredos soviéticos.
O Blackbird acabou aposentado na década de 90, mas sua história inspira os que acreditam na existência do misterioso avião. Na década de 60, ele também tinha sua existência negada pelo governo, embora várias pessoas testemunhassem suas decolagens para missões no Sudeste Asiático na época da Guerra do Vietnã.
SR-71 Blackbird: avião espião teve sua existência negada mesmo após operações diárias no Vietnã |
Local de veneração para ufólogos e entusiastas sobre seres extraterrestres, a região também é palco de avistamentos e ruídos estranhos de aviões, mas pode-se dizer que o afã em encontrar algo não explicado pode ter afetado boa parte dos testemunhos. Aliás, o assunto já foi alvo de tentativas de produzir provas de avistamento do Aurora como uma imagem em preto e branco que mostrava o flagrante do reabastecimento do avião ou quando uma espécie de aeromodelo com suas formas foi considerada autêntica.
Por outro lado, é fato que a base aérea teve suas instalações ampliadas há alguns anos, com a adição de novos hangares, prédios e uma pista extra, sinais que os trabalhos na ‘Área 51’ foram intensificados.
Ou seja, acreditar que os Estados Unidos, depois de revelarem seus dois aviões invisíveis aos radares na década de 90 (o F-117A e o bombardeiro em forma de asa B-2), tenham apenas estudado alguns drones avançados nos últimos 20 anos pode parecer algo um tanto ingênuo.
A famosa ‘Área 51’, base aérea secreta dos Estados Unidos no estado de Nevada |
Buraco de bilhões de dólares no orçamento
Mas se alguém pode falar com propriedade sobre o Aurora esta pessoa é Bill Sweetman. Veterano jornalista de aviação, o britânico é a maior autoridade mundial em ‘projetos negros’. Sweetman esteve por trás justamente da matéria que colocou o ‘Aurora’ na mídia, publicada na conceituada revista Aviation Week.
Livro sobre o Aurora escrito por Bill Sweetman |
Para ele, o Aurora pode ter sofrido um imenso atraso devido a complicações tecnológicas. Uma delas seria o combustível. Nos anos 90, hidrogênio e metano podem ter sido testados, mas não teriam permitido que o avião entrasse em operação por limitações de uso. A volta dos ‘booms’ supersônicos mundo afora nos últimos dez anos pode significar uma nova fase no desenvolvimento do aparelho.
Num artigo para a revista americana Popular Science em 2006, Sweetman deu seu veredicto: “Afinal, o Aurora existe? Anos de busca levaram-me a acreditar que, sim, o Aurora está provavelmente em desenvolvimento ativo, estimulado pelos recentes avanços que permitiram recuperar o atraso do ambicioso programa lançado uma geração atrás.”
Fonte: Airway
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