CARTEIRAS DE ESTUDANTE FALSAS

Carteiras falsas saem de circulação, mas
preços das entradas continuam os mesmos.

Pois é, a justificativa alegada pelas produções de eventos e dos cinemas para preços tão altos nas entradas era de que as carteiras de estudante falsas causavam prejuízo às produções e estabelecimentos, motivo pelo qual eram obrigados a repassar este prejuízo para o valor inteiro da entrada. Pois bem, até aí, compreensível.

Então, com a saída de circulação das carteiras de estudante falsas – agora o portador de carteira de estudante tem seus dados de identificação anotados pelos estabelecimentos, para identificação pela Polícia Federal -, alguém viu algum preço de entrada inteira de algum evento ou cinema baixar? É óbvio que não! E sabe porquê? Porque esta justificativa, tanto das produções quanto dos cinemas é uma falácia!

Antes de existir a lei que beneficia o estudante com a meia entrada, os preços dos eventos e cinemas já eram altos. E qual a justificativa para isso? Não existe justificativa plausível! É pura ganância!

No caso dos espetáculos, naturalmente os grandes (as pequenas produções geralmente tiram, de fato, seus gastos da porcentagem da bilheteria arrecadada, já que também não tem grandes patrocinadores envolvidos), as despesas dos mesmos, inclusive em sua maioria, a porcentagem devida à casa de espetáculos são pagas antecipadamente pelo patrocinador, cujo valor do patrocínio já inclui o valor do aluguel do teatro por toda a temporada. Também os salários dos atores estão inclusos neste patrocínio desde o projeto inicial apresentado às empresas patrocinadoras. O montante resultado das bilheterias é, portanto, extra.

No caso dos cinemas é ainda pior. Se a justificativa era de que a culpa dos preços altos tinha como origem a existência de um número elevado de carteiras de estudantes falsas, agora com a saída destas de circulação, qual a razão para que os preços continuem altos, muito embora as filas para assistir às sessões continuem enormes e concorridas?

E se a justificativa fosse de que, com a saída de circulação das carteiras de estudante falsas, o público pagante tivesse diminuído, também estaria invalidada a justificativa dos preços altos devido a existência de carteiras de estudantes falsas, já que, se ruim com elas, pior seria sem elas, pois com elas, pelo menos, se pagava a metade e tinha-se público, o que agora não estaria, hipoteticamente, acontecendo.

O que vemos é uma verdadeira falácia. Os preços altos não tem justificativa plausível, senão não usariam as carteiras de estudante falsas como motivo e usariam outro, real que fosse. Não usaram, porque não existe! Simples assim! O motivo real é a falta de ética devido à ganância desmensurada e que lesa o consumidor. Isso sim deveria ser investigado pela Polícia Federal, mas misteriosamente não o é.

Não estou defendendo a evidentemente ilícita produção de carteiras de estudantes falsas e nem o uso das mesmas. Isso é crime e deve ser combatido com energia, como a Polícia Federal, que tem se mostrado um órgão mais que competente, diria exemplar e digno de aplauso e orgulho pelo combate que realiza em várias frentes, vem fazendo neste caso. Mas também, a atitude gananciosa que lesa o bolso do povo, precisa ser combatida. Senão, o que vemos é cada vez mais, o acesso à cultura ser elitizado, cujo resultado é uma contramão no processo de enriquecimento intelectual e cultural do brasileiro.

Lembro-me perfeitamente de quando era adolescente e a maioria dos cinemas ainda era de rua e não os multiplex que existem hoje. Suas maravilhosas telas cinemascope e o preço tão barato, que assistíamos vários filmes durante a semana, depois do colégio; às vezes, até dois filmes num mesmo dia! Pagávamos o que seria hoje, por volta de R$ 5,00 (Cinco Reais) a entrada. E a pipoca com refrigerante apenas mais uns R$ 3,00 (Três Reais). Hoje, a entrada inteira é por volta de R$ 18,00 e a pipoca com refrigerante não menos de R$ 10,00. São R$ 28,00 (Vinte e Oito Reais) pelo menos, para se assistir a um filme.

Imagine, para um trabalhador de salário mediano, ir ao cinema todos os dias a estes preços! Se um dia já pesa no orçamento, imagine só... Coitado...

Mas coitados mesmo somos todos nós, nas mãos destes mercantilistas sem limites e sem freio, cujo governo deixa agir livremente e, cuja ética não passa de uma palavrinha sem muito sentido e pueril.


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