sexta-feira, 3 de junho de 2011

"Minhocas do Inferno" levantam a possibilidade de vida extraterrestre

Cientistas descobriram criaturas multicelulares a mais de um quilómetro de profundidade da superfícíe da Terra. Encontrados numa mina de ouro na África do Sul, levantam novas possibilidades sobre a existência de vida no subsolo em outros planetas e luas.

Minhocas inteiras foram encontradas em duas minas e o ADN de outra foi encontrado numa terceira mina. Estes seres foram encontrados na água que flui dos poços, nas rochas das minas, a uma profundidade de dois terços de um quilómetro. As minhocas que se encontravam mais perto da superfície foram levadas para laboratório para um estudo mais profundo.

Onstott Tullis, da Universidade de Princeton
Os dois investigadores a cargo da expedição, Gaetan Borgonie, da Universidade de Ghent, na Bélgica, e Onstott Tullis, da Universidade de Princeton, afirmam que a descoberta de vida a este nível de profundidade é como procurar "Moby Dick no Lago Ontário".

Borgonie, que trabalha em cooperação com uma equipa da Universidade da África do Sul Free State, em Bloemfontein, desceu às minas profundas cerca de 25 vezes para recolher amostras. Afirma ainda que há boas razões para acreditar que existem nematóides e outros organismos multicelulares, abaixo da superfície de muitas outras partes do mundo e, especialmente debaixo dos leitos dos oceanos.

Chamadas de "minhocas do inferno" ou nematóides, estas criaturas são seres com uma complexidade multicelular bastante surpreendente, uma vez que têm sistema nervoso, digestivo e reprodutor. "Isso está a dizer-nos algo novo", afirma Onstott, pioneiro na compreensão da vida microbiana.

Mephisto Halicephalobus é o nome cientificamente correcto para estes seres subterrâneos que foram encontrados num poço de água a cerca de um quilómetro abaixo da superfície na mina de ouro Beatrix, na África do Sul.

Gaetan Borgonie, da Universidade de Ghent,
na Bélgica
"Para uma criatura relativamente complexa, como um nematóide, penetrar tão profundamente é simplesmente incrível", acrescenta o pesquisador, citado pelo "The Washington Post".

Nas últimas décadas, a investigação sobre a distribuição microbiológica no subsolo do planeta levou os cientistas de todo o mundo a concluir que mais de metade da massa biológica na Terra está abaixo da superfície.

A pesquisa levada a cabo pelos investigadores é susceptível de desencadear alguns desafios para os cientistas em todo o mundo, causando até alguma polémica, pois coloca vida com grande complexidade em ambientes nos quais se tinha pensado que era impossível.

Borgonie afirma que apesar de já serem conhecidos estes seres vivos no fundo do oceano nunca tinham sido encontrados a mais de 10 ou 20 metros abaixo da superfície da Terra.

Apesar disso, o investigador afirma que nunca viu uma razão para que os nematóides não fossem encontrados a grandes profundidades.

Além de descobrirem um novo campo da biologia na Terra, os dois investigadores acreditam que esta pesquisa pode ter implicações bastante importantes para a investigação extraterrestre ou para a astrobiologia.

Os cientistas que procuram vida fora da Terra estão intrigados com a possibilidade de existirem seres semelhantes no subsolo de Marte, em particular, pois apesar de agora ser um planeta frio, seco e bombardeado por radiações nocivas já foi um planeta muito mais húmido, quente e melhor protegido por uma atmosfera.

"O que descobrimos mostra que condições adversas não excluem necessariamente complexidade", disse Borgonie, citado pelo "The Washington Post".

Carl Pilcher, director do Instituto de Astrobiologia da NASA, na Califórnia, considera que a descoberta dos nematóides revela a utilidade da investigação na Terra, permitindo aprender sobre a possibilidade de vida extraterrestre.

"É bastante plausível, na verdade, muito provável, que os ambientes do subsolo como os descritos nestes documentos, existam em outros planetas do sistema solar e em outros sistemas planetários", disse Pilcher, referindo-se às descobertas de Onstott.

"Podemos agora dizer que os mundos com este tipo de ambientes subterrâneos, podem, em teoria, desenvolver vida no subsolo, tanto microbiana como multicelular", disse Pilcher. "Estes conhecimentos podem ajudar-nos a orientar o desenvolvimento de missões e experiências para o estudo de outros mundos", acrescentou.

Fonte: www.jn.pt


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