Contato com a espécie pode causar hemorragias internas e o soro produzido no Brasil é o único antídoto no mundo.
Lonomia obliqua vive em comunidade em árvores — Foto: Roberto Moraes/ Instituto Butantan |
O Instituto Butantan alerta para os perigos do contato de pessoas com os “espinhos” envenenados de taturanas (ou lagartas) do gênero Lonomia, que apenas em 2017 foram responsáveis por 741 acidentes no país, de acordo com o Ministério da Saúde. O contato com a grande maioria das lagartas provoca dor e queimação, com inchaço e vermelhidão no local atingido. Porém, o acidente com a Lonomia pode causar uma síndrome hemorrágica, com sangramento na gengiva e na urina, até complicações graves como a insuficiência renal aguda, provocando a morte na falta de um tratamento correto.
Pesquisadores extraem o veneno da tarturana para produzir soro — Foto: Letícia Delphino/ Instituto Butantan |
Atualmente, o tratamento disponível para reverter os efeitos do envenenamento é a utilização do soro antilonômico produzido pelo Instituto Butantan desde 1994, único produtor do medicamento no mundo. O soro é obtido a partir do próprio veneno da Lonomia, em um processo no qual animais são imunizados com antígenos específicos e preparados com a toxina da lagarta.
Para manter a disponibilidade do medicamento, o Instituto recebe a cada ano uma quantidade suficiente dessas lagartas por meio de parcerias com secretarias de saúde da região Sul do país, geralmente entre os meses de dezembro e fevereiro. “Existe uma cadeia de participação para a produção do soro que envolve a população, órgãos de saúde e o Instituto Butantan. Tudo isso para viabilizar o soro”, explica Fan Hui Wen, gestora de projetos do Núcleo Estratégico de Venenos e Antivenenos do Butantan.
“Na medida em que divulgamos a existência dessas lagartas consequentemente se estabelecem ações de prevenção”, explica a médica do Butantan.
Contato com a taturana Lonomia obliqua pode causar síndrome hemorrágica — Foto: Adriano Dias/ Instituto Butantan |
Sobre a espécie
A Lonomia é um inseto em fase larval que possui quatro estágios de desenvolvimento – ovo, lagarta, pupa e mariposa – frequentemente encontrada nos períodos de calor e chuva em troncos de árvores, camufladas e agrupadas em colônias. Somente na fase de larval a lagarta possui cerdas “espinhudas” que contêm um veneno que, em contato com a pele, causa “queimaduras”, dor local e sangramentos. Os acidentes com Lonomia nem sempre causam envenenamento e a gravidade do caso depende da quantidade de lagartas que a pessoa tocou e o quanto de veneno foi inoculado a partir do contato, se foi um contato leve ou se houve pressão sobre as cerdas.
O encontro da lagarta com o homem deve-se provavelmente ao desmatamento e é facilitado pela existência de moradias próximas à ilhas de mata nativa, inclusive no meio urbano.
Taturana é quase imperceptível em tronco de árvore — Foto: Divulgação Instituto Butantan |
Desmatamento
Os motivos da expansão populacional da taturana Lonomia obliqua foram identificados pelo pesquisador Roberto Henrique Pinto Moraes já em 2002. “O desmatamento é o responsável pelo aumento populacional da taturana; o número de acidentes é consequência”, afirmou Moraes, em reportagem divulgada pela Universidade de São Paulo (USP) em 2003.
A extinção de predadores naturais é a causa do aumento das taturanas — Foto: Divulgação Instituto Butantan |
Diminuição de predadores explica avanço da taturana
Outra razão para o aumento da população da taturana do gênero Lonomia é a extinção de um ou mais de seus predadores naturais. O principal deles é uma mosca da família Tachinidae. Ela deposita cinco ou seis ovos. Outro predador é o vírus loobMNPV, nocivo apenas para a Lonomia obliqua. Entre os motivos de extinção dos predadores estariam o desmatamento e o uso de agrotóxicos nas plantações. “Para reduzir acidentes o melhor é a conscientização. Conhecer a lagarta e saber como evitá-la”, alerta Moraes
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