GENEVA (AP) – Um dos pilares da física e da teoria da relatividade de Einstein — de que nada pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz — foi abalada na quinta-feira por uma nova descoberta de um dos laboratórios mais famosos do mundo.
Cientistas europeus disseram que mediram a velocidade de uma partícula subatômica anormal, chamada neutrino, a qual estava viajando mais rápido do que a velocidade da luz, a qual tem sido considerada o limite cósmico da velocidade.
A declaração foi recebida com ceticismo, inclusive com um físico declarando que isto seria o mesmo que declarar que a pessoa está em posse de um tapete voador. Na verdade, os cientistas que fizeram a descoberta não estão prontos para proclamar a descoberta e estão pedindo aos outros físicos para independentemente verificar o achado.
“O sentimento que a maioria da pessoas tem é que isto não pode estar certo; isto não pode ser real“, disse James Gillies, um porta voz para a Organização Européia para Pesquisa Nuclear, ou CERN, que forneceu o acelerador de partículas que enviou os neutrinos em sua viagem de subterrânea entre a Suíça e a Itália.
De acordo com a teoria da relatividade de Einstein, formulada em 1905, nada pode viajar mais rápido do que a velocidade da luz, porém ninguém está indo reescrever os livros de ciência ainda.
Isto é “uma descoberta revolucionária, se for confirmada“, disse Alan Kostelecky, um físico teórico da Universidade de Indiana, nos EUA, que trabalhou com este conceito por 25 anos.
Stephen Parke, que é um cientista chefe do Fermilab, próximo de Chicago, e não fez parte da pesquisa, disse: “É um choque. Isto irá nos causar problemas, sem dúvida alguma — se for verdade“.
Mesmo se estes resultados forem confirmados, eles não mudarão a forma que vivemos ou que o mundo funciona.
A confirmação da existência de uma partícula mais rápida que a luz vai abrir portas à hipótese de se poder "viajar no tempo", defendeu Gaspar Barreira, o investigador português do Conselho da Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN).
A existência de algo mais rápido que a luz não deveria acontecer de acordo com a teoria de Einstein que tornou famosa a equação “E=mc2”. No entanto, o CERN anunciou na quinta-feira uma experiência que defende que os neutrinos são 60 nanossegundos mais rápidos do que a luz.
“Se esta experiência se confirmar haverá uma enorme revolução na física, que trará graves consequências, porque há uma quantidade de coisas que achávamos que estavam descobertas e afinal não estão”.
Gaspar Barreira |
Recuar no tempo
Gaspar Barreira lembra que caso haja a confirmação da descoberta, esta vai “mexer com o princípio da causalidade” e até permitir a hipótese de se poder “andar para trás no tempo e condicionar no futuro uma acção do passado”.
"O mundo é muito mais complexo do que as nossas teorias científicas. Não fazemos a mais pequena ideia do que se passa com 95 por cento do universo", lembrou o também presidente do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP).
Gaspar Barreira estava na reunião mensal do CERN, em Genebra, quando soube os resultados da investigação, que só viriam a ser publicamente divulgados horas mais tarde. “Há resultados que eu esperava, mas nunca este. Há poucas gerações que podem viver estas experiências”, disse, emocionado, o cientista, que acredita que os próximos anos sejam de grandes descobertas, "tal como aconteceu na viragem do século passado".
O físico explicou a experiência agora revelada: "Foi disparado um feixe de neutrinos do acelerador de partículas situado perto de Genebra para um laboratório subterrâneo em Itália, a 730 quilómetros de distância". Resultado: o neutrino viajou 60 nanossegundos mais rápido que a velocidade da luz.
Para já apenas um resultado experimental
A mais famosa dupla do cinema, que viaja no tempo em um carro que é uma máquina do tempo. Sucesso da década de 80. |
Os investigadores envolvidos neste projeto já pediram à comunidade científica internacional que confirmem ou excluam esta a experiência. “Isto não é uma descoberta, é um resultado experimental que é preciso confirmar”, sublinhou Gaspar Barreira.
O professor José Pedro Mimoso, do Departamento de Física da Universidade de Lisboa, explicou o "pedido" dos investigadores: um nanossegundo é mil milhões de vezes mais pequeno que um segundo e por isso tem de se colocar a hipótese de haver um“erro sistémico” e para isso "basta que haja um detector que não está bem calibrado”.
Os dois portugueses sublinham que estas descobertas não põem em causa nem destroem a teoria de Einsten. Caso se confirme, será uma informação adicional à teoria. "Em ciência não se deita por terra descobertas anteriores", lembrou Gaspar Barreiros.
Três sentimentos
E como é que a comunidade científica está a viver o momento? “Há três sentimentos: a perplexidade e o cepticismo, porque a teoria de Einsten já foi muitas vezes confirmada, mas também a excitação perante algo inesperado”, resumiu José pedro Mimoso.
Por enquanto, a velocidade da luz - 299.792 quilómetros por segundo - continua a ser considerada o limite de velocidade cósmica.
Fonte: Ciência Hoje
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