O sistema de não-agressividade, moral e filosófico exposto por Buda (Siddharta Gautama), que não exige de seus adeptos uma fé cega, não expõe uma crença dogmática, não encoraja rituais, porém, defende um método valioso que leva o adepto através de uma vida simples e uma mente tranquila a adquirir a suprema sabedoria e a libertação de todo sofrimento, é chamado DHARMA, popularmente conhecido como Budismo ou Buddhadharma.
O Buda (Siddharta Gautama) transmitiu seus ensinamentos (O Dharma, a Doutrina) verbalmente e repetidamente afim de que eles ficassem na memória de seus discípulos. Logo após a morte do Buda, cerca de 500 discípulos, entre eles Ananda e Upali, reuniram-se par a recitar Os Ensinamentos e organizá-los nos Discursos e nas Regras Monásticas, preservando- os na memória tal como foram originalmente ensinados. E assim a Doutrina foi transmitida de geração a geração. No ano 83 da era Cristã, os Ensinamentos do Buda foram escritos em língua páli originando o Tipitaka, o Cânone Páli, o cânone adotado pela Tradição Theravada.
O Tipitaka (Tripitaka em sânscrito) consta de três coleções ou 'cestas', os Pitaka:
Sutta Pitaka - contendo todos os discursos: A Doutrina.
Vinaya Pitaka - contendo as regras monásticas para a Sangha: A Disciplina.
Abhidhamma Pitaka - que surgiu posteriormente e desenvolve a Doutrina acrescentando pontos de vista filosóficos e psicológicos mais profundos.
O Sutta Pitaka está dividido nas coleções:
1. Digha Nikaya (Coleção dos Discursos longos).
2. Majjhima Nikaya (Coleção dos Discursos médios).
3. Samyutta Nikaya (Coleção dos Discursos reunidos por assunto).
4. Anguttara Nikaya (Coleção dos Discursos organizados em ordem numérica.)
5. Khuddaka Nikaya (Coleção dos discursos pequenos).
O Dhammapada, que é uma antologia em versos dos ensinamentos do Buda, pertence ao Khuddaka Nikaya.
OS DISCURSOS DE PROTEÇÃO - PARITTA SUTTA
Nos países budistas é importante se ouvir a recitação do Darma, isto é, dos Ensinamentos do Buda, a fim de prevenir doenças e perigos, afastar a influência de seres malignos, obter proteção contra o mal, promover a saúde, a prosperidade e o bem-estar. Os discursos usados na recitação são conhecidos como paritta sutta, discursos para proteção. Paritta, em língua páli, significa proteção. Paritta sutta são alguns discursos do Buda tidos como capazes de propiciar proteção. Essa proteção poderá ser obtida recitando ou ouvindo esses sutras.
A prática de recitar e escutar os parittas começou muito cedo na história do budismo. A palavra paritta foi usada pelo Buda, pela primeira vez, num discurso conhecido como khandha paritta, discurso este que foi por ele recomendado na qualidade de guarda ou proteção para o uso dos membros da Sangha. Neste discurso, o Buda exorta os monges a cultivar metta (bondade-amorosa) para com todos os seres.
É certo que a recitação do paritta produz bem-estar mental naqueles que escutam com atenção e têm confiança na verdade das palavras do Buda. Os benefícios são muitos. Na Índia, as pessoas que ouviam os sutras compreendiam o que era recitado e o efeito exercido sobre elas era muito benéfico. O próprio Buda, certa ocasião quando esteve doente teve um paritta recitado para ele e recomendou que fosse recitado para seus discípulos quando os mesmos estivessem doentes.
Vários fatores combinam para a eficácia dos sutras paritta. Eles são nada mais que uma asseveração da verdade. A proteção resulta pelo poder de tal asseveração. Isto significa, estabelecer- se no poder da verdade para ganhar seu objetivo. Ao final da recitação de cada sutra, o recitador abençoa os ouvintes com as palavras, 'etena sacca vajjena sotthi te hotu sabbada', que significa: 'pelo poder da verdade destas palavras, que tu estejas bem.' A frase, 'o poder do Darma ou da Verdade protege o seguidor do Darma' indica o princípio que está por trás das recitações dos sutras.
Na sua extraordinária compaixão, o Buda mostrou como anular os infortúnios e ter uma vida longa, proveitosa e feliz.
As reuniões budistas começam pela recitação do Vandana (Homenagem ao Buda) como afirmação de respeito e gratidão ao Buda na qualidade de preceptor supremo; o Tisarana, (Os Refúgios) que confirma o comprometimento em se aceitar a orientação do Buda, seus Ensinamentos (O Darma) e seus representantes (a Sangha); e o Pancasila (Os Cinco Preceitos) que dá forma concreta à aspiração de trilhar o caminho que leva à última libertação, o Nirvana. Os Cinco Preceitos são recitados e observados pelos budistas de manhã e de noite. São também recitados antes de reuniões e festivais. Todo budista mantém os preceitos voluntariamente e tenta viver de acordo com eles.
Homenagem (Vandana)
Namo Tassa Bhagavato Arahato Samma Sambuddhassa
(Homenagem a Ele, o Abençoado, o Perfeito, o Supremo Iluminado)
Os Três refúgios (Tisarana)
Recorro ao Buda como refúgio
Recorro ao Darma como refúgio
Recorro a Sangha como refúgio.
Os Cinco preceitos (Pancasila)
Assumo o preceito de abster-me de destruir os seres vivo.
Assumo o preceito de abster-me de tomar o que não me for dado.
Assumo o preceito de abster-me de comportamento errôneo nos prazeres sensuais.
Assumo o preceito de abster-me da fala incorreta.
Assumo o preceito de abster- me de bebidas alcoólicas e intoxicantes que perturbam a mente.
MAHAMANGALASUTTA - O GRANDE DISCURSO DAS BÊNÇÃOS
Assim eu ouvi.
Certa ocasião o Mestre estava morando temporariamente no mosteiro de Anathapindika dentro do Bosque de Jeta, perto de Savatthi. Altas horas da noite, uma divindade, cujo radiante esplendor iluminava completamente o Bosque, aproximou-se do Mestre, saudou-o com reverência e sentou ao seu lado. Assim estando, dirigiu-se ao Mestre em versos:
'Muitos deuses e homens, ansiando saber sobre o que é propício, têm refletido sobre as bênçãos. Suplico, diga-me qual a maior das bênçãos.'
'Não se associar aos tolos, mas associar-se aos sábios; e honrar aqueles que honra merecem - esta é a maior das bênçãos.'
'Residir em local adequado, no passado, ter feito ações meritórias e situado-se no caminho correto - esta é a maior das bênçãos.'
'Ter considerável aprendizado, ser habilidoso nas artes, ser disciplinado e ter uma fala sincera - esta é a maior das bênçãos.'
'Sustentar o pai e a mãe, tratar com carinho a esposa e os filhos, estar envolvido num trabalho pacífico - esta é a maior das bênçãos.'
'Ser generoso ao dar, ter uma conduta correta, ajudar os parentes, ter um comportamento irrepreensível - esta é a maior das bênçãos.'
'Abominar e evitar a maldade, abster-se de bebidas intoxicantes, e estabelecer- se na virtude - esta é a maior das bênçãos.'
'Ser respeitador, humilde, contente e agradecido; ouvir o Darma em ocasiões oportunas - esta é a maior das bênçãos.'
'Ser paciente e obediente, colaborar com os monges e fazer estudos sobre o Darma em ocasiões oportunas - esta é a maior das bênçãos.'
'Ter autocontrole, levar uma vida feliz e casta, compreender as Nobres Verdades e a realização do Nirvana - esta é a maior das bênçãos.'
'Conservar a mente tranqüila nos imprevistos da vida, livre da tristeza, isenta de corrupção e liberada do medo - esta é a maior das bênçãos.'
'Aqueles que praticarem tais feitos, tornar-se-ão invencíveis para sempre e estabelecidos na felicidade. Estas são as maiores bênçãos.'
Sutta Nipata vv. 258-269
PARABHAVASUTTA - A QUEDA
Assim eu ouvi.
Certa vez o Mestre estava morando no mosteiro de Anathapindika no Bosque de Jeta perto de Savatthi. Quando a noite chegou, uma divindade cujo radiante esplendor iluminava todo o Bosque de Jeta, apresentou-se ao Mestre. Aproximou-se, saúdo-o respeitosamente e permaneceu ao seu lado. Assim, de pé, dirigiu-se ao Mestre em verso:
A Divindade:
Trazemos aqui algumas perguntas para o Mestre, Oh Gotama, nós vos perguntamos acerca da decadência do homem. Suplico, diga qual a causa da queda do homem.
O Buda:
Facilmente conhecido é o homem em progresso, facilmente conhecido é o homem em decadência. Aquele que ama o Darma progride; aquele que lhe é hostil, decai.
A Divindade:
Isto na verdade já sabemos; esta é a primeira causa da queda do homem.(*)
(*) - Estas linhas serão repetidas após cada estrofe abaixo, com a devida numeração.
O Buda:
O corrompido é estimado por ele, com o virtuoso ele não encontra alegria, prefere os princípios do corrompido - esta é a causa da queda do homem.
Gostar muito de dormir, gostar muito de companhias, ser indolente, preguiçoso e mau-humorado - esta é a causa da queda do homem.
Embora sendo próspero, não sustenta o pai nem a mãe que perderam a juventude e agora são idosos - esta é a causa da queda do homem.
Enganar com falsidade um monge, um asceta ou um religioso - esta é a causa de queda do homem.
Tendo muita riqueza, bastante ouro e alimentos, usufruir desses bens sozinho - esta é a causa da queda do homem.
Ser orgulhoso de sua origem, da riqueza e da família, e desprezar seus próprios parentes - esta é a causa da queda do homem.
Ser libertino, beberrão, jogador e desperdiçar tudo que ganha - esta é a causa da queda do homem.
Não está contente com a própria esposa e ser visto com prostitutas e mulheres dos outros - esta é a causa da queda do homem.
Um homem que tendo perdido a juventude, casa-se com uma mulher jovem e é incapaz de dormir por ter ciúmes dela - esta é a causa da queda do homem.
Colocar em um cargo de autoridade uma mulher que é dada a bebedeiras e ao desperdício, ou um homem de igual comportamento - esta é a causa da queda do homem.
Ter uma origem nobre, porém uma ambição desmedida e recursos escassos e ansiar por uma posição de autoridade - esta é a causa da queda do homem.
Conhecedor muito bem de todas as causas de sua queda no mundo, o homem sábio dotado de discernimento se associa ao que é correto e seguro.
Sutta Nipata vv. 91-115
KARANIYAMETTASUTTA - DISCURSO SOBRE A BONDADE AMOROSA
Aquele que cultiva o bem, e que deseja alcançar a suprema felicidade, deve proceder assim:
- Ser contente, modesto no seu sustentoo, e moderado em seu trabalho; viver de modo simples, controlado em seus sentidos, discreto, não ligado demasiadamente à família.
- Evitar comportamentos que possam ser censurados pelos sábios.
- Desejar que todos os seres tenham pennsamentos benéficos e felizes., sem fazer distinção, seja ele, fraco ou forte, alto ou baixo, grande, médio ou pequeno, magro ou gordo;
- Visível ou invisível, vivendo perto oou longe; nascido ou por nascer;
- Desejar que todos os seres vivam feliizes em segurança.
- Como uma mãe, que mesmo com o risco dde sua própria vida, protege seu único filho, assim deve proceder para com todos os seres vivos; deve cultivar a bondade irrestrita.
- Cultivando a compaixão para com todoss os seres, próximos, ou distantes, sem ódio e sem inimizades.
- Observar a Plena Atenção quer esteja em pé, andando, sentado, deitado ou desperto.
- Não se deixar cair em errados pontos de vista, mas adotar uma visão virtuosa, removendo os desejos pelos prazeres dos sentidos;
- Assim vivendo, este ser não mais renaascerá!
MAHAKASSAPATTHERA BOJJHANGAM
Discurso sobre os Fatores de Iluminação expostos para o Ven. Kassapa, O Grande.
Assim eu ouvi:
Certa vez o Sublime estava em Rajagaha, no Bosque dos Bambus, no Parque dos Esquilos. Na mesma época, o Ven. Kassapa, O Grande, vivia na caverna Pipphali, doente, sofrendo muito, dolorosamente angustiado. Então, á noite, O Sublime, saiu de seu retiro e foi para o local onde o Ven. Kassapa estava. Lá chegando, sentou-se e sentado, o Sublime falou:
'Kassapa, como você está? Está melhor? Está se alimentando? Suas dores diminuíram ou aumentaram? Você acha que vai se curar ou que vai piorar?'
E Kassapa respondeu:
'Senhor, eu não estou melhor, não tive alívio. As dores estão terríveis. Aumentam, não diminuem. Estão muito longe de terminar.'
O Sublime disse:
'Oh, Kassapa, existem sete fatores de Iluminação, por mim bem ensinados, desenvolvidos, realizados, que levam à introspecção, à completa Iluminação, ao Nirvana. E quais são eles? O fator de iluminação Plena Atenção, a Investigação da Doutrina, a Energia, a Alegria, a Tranqüilidade, a Concentração, a Equanimidade, todos por mim bem ensinados, bem desenvolvidos, bem realizados, que levam à introspecção, à completa iluminação, ao Nirvana.'
E Kassapa respondeu:
'Em verdade, Senhor, estes são Os Sete Fatores da Iluminação!'
Assim o Bem-aventurado citou os Fatores de Iluminação para o Ven. Kassapa, o Grande. Feliz, Ven. Kassapa concordou com o Mestre, levantou-se ficando curado da doença.
Pela força dessa Verdade, possa você ser feliz!
Pela força dessa Verdade, possam todos os seus problemas desaparecerem!
Pela força dessa Verdade, possam todos os seres vivos serem felizes!
Bibliografia
Buddhism in a Nutshell - Narada Thera
Everyman’s Ethics - Four Discourses by the Buddha - Translated by Narada Thera
Bhavana Vandana - Book of Devotion - Compiled by H. Gunaratana Mahathera
Catubhanavarapali - Maha Pirit Pota
The Great Book of Protectios - Translated by Lionel Lokuliyana
A Buddhist Manual - Ven. H. Saddhatissa
The Book of Protection - Ven. Piyadassi Thera
7 - Mudrá - Boletins do C.E.B.- Nissim Cohen
Longa é a noite para quem vela; longa é o caminho para quem está cansado;
Longo é o samsara para os tolos que desconhecem o sublime Darma.
'São meus esses filhos, é minha essa riqueza', assim o tolo se aflige.
Na verdade ele mesmo não é de si próprio, muito menos os filhos e a riqueza.
Dhammapada v. 60 e 62
Muito obrigado pelo texto. Foi util em todas as linhas! Sadho, sadho, sadho!
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